Como a mudança do clima tem afetado as estações do ano

Imagem de uma estrada asfaltada repleta de árvores dos dois lados encobrindo o céu e com folhas amarelas e laranjas ilustram o artigo que aborda sobre como a mudança do clima tem afetado as estações.
O aparecimento da primeira folha marca a chegada da primavera, enquanto que a queda das folhas marca o início do outono. O momento desses eventos está mudando. Foto: Kerstin Riemer/Pixabay.

O outono finalmente chegou no Reino Unido após um mês de setembro excepcionalmente ensolarado. Os dias estão ficando mais curtos, a temperatura mais baixa e as folhas estão mudando de cor.

O início tardio do outono em 2023 não é único. Na verdade, ele faz parte de uma tendência mais ampla em que a mudança do verão para o inverno está acontecendo no final do ano. Minha própria pesquisa que realizei nos últimos 13 anos aponta as mudanças climáticas como as prováveis culpadas.

Um dos efeitos mais perceptíveis das mudanças climáticas é a mudança dos padrões de sazonalidade da vegetação ao nosso redor. Isso inclui o momento de eventos biológicos importantes, como a explosão dos botões, o aparecimento das primeiras folhas nas árvores, a floração e a queda das folhas.

Em geral, o aparecimento da primeira folha marca a chegada da primavera, enquanto que a queda das folhas marca o início do outono. O momento desses eventos está mudando, particularmente no hemisfério norte, onde a primavera parece estar começando mais cedo e o início do outono está sendo adiado.

Tradicionalmente, o monitoramento da sazonalidade da vegetação envolvia documentar meticulosamente estes eventos ano após ano. Os primeiros registros no Reino Unido aconteceram em 1736, quando o naturalista Robert Marsham registrou o momento dos eventos da primavera [na cidade de] Norwich.

Atualmente, os dados de satélite tornaram-se uma ferramenta essencial para rastrear as mudanças na sazonalidade da vegetação, cujos dados podem ser usados para estimar o vigor da vegetação (um indicador da condição, força e exuberância da vegetação). As mudanças podem então ser usadas para identificar o início e o fim de cada estação de crescimento.

Estações de crescimento mais longas

Os pesquisadores do clima têm agora quase cinco décadas de observações de satélite à sua disposição. A análise destes dados revela que a primavera avançou em torno de 15 dias, enquanto que o outono foi atrasado em quantidades semelhantes de dias. O resultado geral representa uma extensão na estação de crescimento de um mês inteiro nas últimas três décadas.

A mudança no tempo das estações é particularmente pronunciada em latitudes mais altas. A vegetação situada a mais de 55° ao norte da linha do equador, como nas florestas de larvas do norte da Rússia, tem mostrado uma tendência prolongada na direção da estação de crescimento, aumentando em até um dia por ano.

A mudança no tempo das estações é particularmente mais forte em latitudes mais altas. Foto: FO/Sustenare.

Uma estação de crescimento mais longa não é necessariamente uma coisa ruim. Isso significa um período mais longo de fotossíntese, o que teoricamente poderia aumentar a absorção líquida de carbono – embora ainda não haja evidências concretas sobre isso.

Porém, um início mais precoce da estação de crescimento expõe as plantas ao risco de danos causados pelas geadas da primavera e a uma maior vulnerabilidade à seca do verão. Uma pesquisa descobriu que o início da primavera no centro e no norte da Europa em 2018 resultou no aumento do crescimento da vegetação. Por sua vez, isso contribuiu para que o solo perdesse a umidade rapidamente, amplificando as condições de seca no verão.

O papel das alterações climáticas

A temperatura é um dos principais fatores que influenciam o crescimento da vegetação em altas latitudes ao norte. Assim, um início mais precoce da primavera e uma chegada mais tardia do outono são provavelmente impulsionados pelo aumento da temperatura média global, a qual tem subido 0,18°C por década, desde 1981.

No entanto, a influência da temperatura na duração da estação de crescimento pode mudar dependendo do tipo de vegetação. Em ecossistemas dominados principalmente por florestas, um clima mais quente pode resultar em mais fotossíntese e no aumento da produtividade da vegetação.

Por outro lado, em um clima mais quente, mais água evapora da superfície da Terra e o solo fica mais seco, podendo afetar negativamente o crescimento de plantas com raízes rasas, como gramíneas e plantas herbáceas.

Outra consequência das mudanças climáticas é o aumento da frequência de secas durante o pico da estação de crescimento. As condições de seca geram um estresse hídrico severo nas plantas, levando à queda prematura das folhas ou provocando uma mudança em sua cor – um fenômeno comumente referido como um “falso outono”.

O Reino Unido experimentou essas condições em agosto de 2022, quando houve uma queda precoce de folhas e o escurecimento das folhas, enquanto o país enfrentava uma onda de calor extremo.

Uma estação de crescimento mais longa e seca também pode aumentar o risco de incêndios florestais. Um estudo americano de 2006 revelou um aumento significativo na atividade de incêndios florestais nas florestas do norte das Montanhas Rochosas americanas a partir de meados da década de 1980. Essa mudança estava intimamente ligada ao aumento das temperaturas da primavera e do verão e a um derretimento de neve mais cedo na primavera.

Às vezes as árvores perdem suas folhas mais cedo quando estão sob estresse. Foto: Tyna Janoch/Pixabay.

As alterações climáticas estão exercendo um impacto perceptível no crescimento da vegetação e na sazonalidade. Mas a extensão e severidade desse impacto variam em função do tipo de planta e de onde ela cresce.

A disponibilidade de dados de satélite que abrangem os últimos 50 anos é um recurso valioso para capturar mudanças na duração da estação de crescimento da vegetação. Esses dados estão ajudando os cientistas a quantificar a escala e as consequências dessas mudanças, fornecendo informações sobre como as plantas respondem ao aquecimento de nosso clima.

Artigo original (em inglês) publicado por Jadu Dash na The Conversation UK.


Sobre o autor
Jadu Dash é professor de Sensoriamento Remoto e membro da equipe de Geografia e Ciência Ambiental da Universidade de Southampton, no Reino Unido.

Declaração de Transparência: Jadu Dash não trabalha, não faz consultoria, nem possui ações ou recebe financiamento de qualquer empresa ou organização que poderia se beneficiar com a publicação deste artigo e também não revelou nenhum vínculo relevante além do cargo acadêmico que ocupa.

A Universidade de Southampton fornece financiamento como membro do The Conversation UK.

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