Combustíveis fósseis atingirão pico até 2030

Foto de uma máquina prospectora de petróleo como pano de frente de um campo aberto sob um céu com algumas nuvens e um pôr do sol como pano de fundo ilustra artigo cujo título diz que os combustíveis fósseis atingirão pico até 2030.
Prospecção de petróleo: Relatório da IEA pede para que haja um declínio ordenado no uso de combustíveis fósseis. Foto: Jan Zakelj/Pexels.

Enquanto a próxima conferência climática [COP28] das Nações Unidas promete disputas internas e impasses, a principal analista global sobre energia – a Agência Internacional de Energia (IEA) – apresenta boas e más notícias. Segundo ela, a boa notícia é que a transição verde é “imparável”. A ruim, é que o afastamento dos combustíveis fósseis, tão dramático quanto o que já está em andamento, não será o suficiente para o cumprimento das metas mundiais de limitar o aquecimento global.

No geral, a IEA – órgão consultivo, criado após o choque do petróleo de 1973 – está pintando um quadro otimista das próximas décadas. A agência estima que, com base nas políticas atuais, o uso global de combustíveis fósseis atingirá o pico até 2030 e depois diminuirá continuamente – particularmente o carvão, que deverá cair cerca de 40% em três décadas – apesar do crescimento contínuo da população mundial.

Somente os projetos eólicos offshore receberão três vezes mais financiamento do que as usinas movidas a carvão e a gás, e o número de carros elétricos na estrada aumentará dez vezes.

Com tais mudanças monumentais em curso, limitar o aumento da temperatura global à meta de 1,5°C – prevista no Acordo de Paris em 2016 – continua sendo uma possibilidade, embora esteja longe de ser garantida, especialmente sem haver investimentos significativos pelos próximos 10 anos.

Essas projeções fazem parte do World Energy Outlook, um relatório anual da IEA que resume o estado atual e futuro do mercado global de energia. O relatório estabelece as bases para as negociações na COP28, a conferência anual das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas que será realizada em Dubai no final de novembro.

“A transição para a energia limpa está acontecendo no mundo todo e é imparável”, disse Fatih Birol, diretor executivo da IEA, em um comunicado à imprensa. “Não é uma questão de ‘se’, é apenas uma questão de ’em quanto tempo’ – e quanto mais cedo, melhor para todos nós.”

Este ano é a primeira vez que o relatório de perspectivas energéticas da IEA projeta um pico no consumo de combustíveis fósseis. Mesmo assim, o relatório alerta que diante das políticas atuais, a demanda por combustíveis fósseis é, no fim das contas, muito alta para manter o aquecimento [global] abaixo de 1,5°C – referência acordada internacionalmente para evitar os efeitos mais catastróficos das mudanças climáticas. Na trajetória atual, a IEA estima que a temperatura média global vai aumentar 2,4°C até o ano de 2100.

Para cumprir a meta do Acordo de Paris, o relatório apela para que haja uma transição acelerada para as energias renováveis e eliminação progressiva dos combustíveis fósseis. O relatório estabelece metas específicas para os líderes mundiais [que estarão] na COP28, incluindo: triplicar a capacidade de energia renovável e o financiamento para esta forma de energia; dobrar a taxa de melhorias para a eficiência energética, reduzindo em 75% as emissões de metano nas operações dos combustíveis fósseis; e não aprovar usinas de energia movidas a carvão que não utilizarem métodos para a captura de dióxido de carbono (CO2). Mais importante ainda, o relatório pede pelo “declínio ordenado no uso dos combustíveis fósseis”.

Usina movida a carvão: Relatório da IEA diz que o uso do carvão deverá cair cerca de 40% em três décadas. Foto: Benita Welter/Pixabay.

“A velocidade com que as emissões vão diminuir dependerá em grande parte da nossa capacidade de financiar soluções sustentáveis para satisfazer a crescente demanda por energia em economias que estão em rápido crescimento mundial”, disse Birol. “Tudo isso aponta para a importância vital de redobrar a colaboração e a cooperação, não recuar delas.”

O relatório ainda faz destaque sobre as principais mudanças na economia da China como um potencial impulsionador da diminuição do uso de carvão e das emissões de carbono. A China é o maior produtor e consumidor mundial de carvão, e a IEA prevê que a produção de energia das usinas movidas a carvão do país atingirá o pico por volta de 2025 e diminuirá em 2030, na medida em que diminuir a dependência que a China tem pelo carvão usado na geração de energia em massa.

O ritmo e a escala das reduções no consumo de carvão são incertos, observa o relatório, e o grau de diminuição depende do ritmo de crescimento das energias renováveis. A China também é líder na fabricação de energias renováveis e é a maior produtora de painéis solares, tecnologias eólicas, baterias e bombas de calor. A diminuição do uso de carvão no país depende de sua capacidade de escalar ainda mais a produção e o uso das tecnologias renováveis, observa o relatório.

A IEA também alerta para o “excesso na oferta de gás”. A partir de 2025, um “aumento sem precedentes” nos projetos de gás natural liquefeito (GNL) – principalmente nos EUA e no Catar – deve aumentar a oferta global em 50%.

O aumento dramático no suprimento de GNL aliviará as preocupações de segurança energética surgidas depois que a Rússia invadiu a Ucrânia e o subsequente aumento nos preços do petróleo e do gás. Mas os investimentos em combustíveis fósseis estão duas vezes maiores do que deveriam estar para que o mundo possa atingir emissões líquidas zero [net zero], de acordo com a IEA, e “isso cria o risco claro de manter o uso de combustíveis fósseis e colocar a meta de 1,5ºC fora do alcance”.

Os defensores da justiça climática têm lutado contra esses investimentos na África. Na esteira da invasão da Ucrânia, empresas de combustíveis fósseis correram para desenvolver petróleo e gás no continente africano – a maior parte destinada à Europa.

“Isso não é para a segurança energética da África. Isso é para a segurança energética da Europa”, disse Fadhel Kaboub, professor associado de economia da Universidade Denison [em Ohio, EUA] e presidente do Instituto Global para a Prosperidade Sustentável – um think tank de políticas públicas [criado na universidade]. “Esta é mais uma tentativa de deixar o continente africano no fundo da escala econômica com tecnologia obsoleta, fontes obsoletas de energia e distrações perigosas que não servem aos interesses do continente e não servem aos interesses do planeta.”

Artigo original (em inglês) publicado por Naveena Sadasivam na Grist. Assine a newsletter da Grist.


Sobre a autora
Naveena Sadasivam é redatora sênior da Grist.

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