Avanço populacional pode afetar a oferta de energia elétrica

Imagem de uma cidade toda iluminada para servir de ilustração do post que fala que o avanço populacional pode afetar a oferta de energia elétrica
Foto: Nikhil Kurian/Pixabay

Sociedades evoluídas alcançaram um alto padrão de vida que está diretamente ligado não somente à produção e ao consumo, mas também à qualidade e quantidade de energia que as pessoas têm disponíveis para o desempenho de suas atividades diárias[1]. A condição humana evoluiu até chegar aos dias atuais em que a demanda por energia inclui o uso da eletricidade para suprir necessidades básicas, como a produção de alimentos, aquecimento, refrigeração e iluminação. No entanto, o aumento da demanda causado pelo avanço populacional pode afetar a oferta de energia elétrica.

A Organização das Nações Unidas considera como um direito da humanidade o acesso universal à energia como forma de atender as necessidades básicas. Entretanto, elas demandam uma enorme quantidade de energia que pode não ser disponibilizada a um preço acessível para a população de baixa renda de países em desenvolvimento.

Além disso, o acesso desse grupo à energia também pode ser limitado por fatores externos, tais quais problemas geopolíticos, como a recente guerra Russo-Ucraniana, efeitos globais causados por crises energéticas e, principalmente, a alta volatilidade nos preços dos combustíveis fósseis[2].

A forte industrialização dos países desenvolvidos nas últimas três décadas, aliada ao crescimento econômico dos que estão em desenvolvimento, mesmo que de uma forma mais moderada após a crise financeira de 2008, fez a demanda por energia crescer mais nos países cuja população é grande e, sobretudo, urbana. Atualmente, mais da metade da população global já é urbana – era 16% em 1900[3].

O deslocamento humano do campo para a cidade fez a renda per capita aumentar e, consequentemente, gerar um crescimento (também per capita) do consumo energético, uma vez que mais pessoas alteraram seus estilos de vida ao terem acesso a veículos motorizados, aparelhos de TV e rádio, entre outros eletroeletrônicos que demandam energia.

Considerando que a globalização e o avanço populacional fizeram o consumo energético aumentar de forma exponencial e aparentemente impossível de sustentar, se o consumo energético global também seguir no mesmo ritmo, corre-se o risco de não haver energia suficiente para suprir a demanda, sobretudo nos países em desenvolvimento e nos quais a falta de eletricidade pode se agravar[4].

Com o aumento da temperatura média do planeta, o uso de condicionadores de ar se tornará crítico, pois aumentará mais rapidamente do que o crescimento econômico nos países cuja população vive em climas quentes[5]. Tal crescimento no consumo energético contribuirá de forma significativa para as emissões de gases de efeito estufa, além de levar ao limite a capacidade de suprimento de eletricidade nos períodos de pico.

Do mesmo jeito, boa parte do crescimento do consumo de eletricidade dos países em desenvolvimento virá do uso de refrigeradores e máquinas de lavar, visto que o mercado desses aparelhos ainda não está saturado e, portanto, deve aumentar caso se confirme o crescimento econômico que anos atrás havia sido previsto para as próximas décadas[5].

O que pode ser feito?

Para amenizar a possível disparidade entre a demanda e a oferta de energia, é preciso que ocorram mudanças comportamentais e de estilo de vida da população como um todo, principalmente a que vive em áreas urbanas. Algumas das mudanças[3,4,6] incluem:

• Redução drástica no desperdício de energia

• Alteração no padrão de consumo energético

• Troca dos aparelhos de uso doméstico que consomem muita energia por outros de consumo mais eficiente e que tenham o selo de eficiência energética

• Substituição de lâmpadas incandescentes tradicionais por modelos eficientes e de baixo consumo, como as fluorescentes compactas (CFL) ou as lâmpadas LED

• Uso mais coerente do veículo particular motorizado, trocando-o pelo transporte público nos dias de semana para ir ao trabalho

Além das mudanças de cunho comportamentais por parte da população, também será preciso haver a participação do governo com relação à criação e promulgação de políticas públicas que apoiem os combustíveis renováveis, incentivem o consumo energético de forma racional e estimulem o engajamento de empresas na produção de bens que usem a energia de maneira mais eficiente[7,8,9,10,11].  

Nesse sentido, políticas públicas voltadas para a área ambiental serão de grande importância se promulgadas com o intuito de promover o crescimento do país por meio de uma economia verde que use os recursos naturais de forma sustentável. Logo, o grande desafio do mundo, na visão do InterAcademy Council[12], será o de fazer a transição para um futuro de energia sustentável, no qual haja uma mudança com relação ao modo como ela é fornecida e também como ela é consumida.

Referências

[1] Williams, J. History of energy. In: Scientists and the Franklin Institute: Making their cases. Philadelphia: The Franklin Institute, 2006.

[2] Aviles, L. Electric energy access in European Union law: a human right? The Columbia  Journal of European Law Online, 2014. 

[3] Ellis, E. et al. Used planet: a global history. PNAS 110 (20) 7978–7985, 2013.

[4] Aman, M. et al. Analysis of the performance of domestic lighting lamps. Energy Policy (52) 482–500, 2013.

[5] McNeil, M.; Letschert, V. Modeling diffusion of electrical appliances in the residential sector. Energy and Buildings (42) 783–790, 2010.

[6] Reynolds, T. Consumer preferences and willingness to pay for compact fluorescent lighting. Energy Policy (41) 712–722, 2012.

[7] Harvey, L. Recent Advances in Sustainable Buildings. Annual Review of Environment and Resources (38) 281–309, 2013.

[8] Geller, H. et al. Policies for advancing energy efficiency and renewable energy use in Brazil. Energy Policy (32) 1437–1450, 2004.

[9] Schaeffer, R. et al. Energia e economia verde: cenários futuros e políticas públicas. Rio de Janeiro: FBDS, 2012. 56 p.

[10] Horta Nogueira, L.A.; Costa, J.C. Opções tecnológicas em energia: uma visão brasileira. Rio de Janeiro: FBDS, 2012. 52 p.

[11] Lucon, O.; Goldemberg, J. Diretrizes para uma economia verde no Brasil ll: energia. Rio de Janeiro: FBDS, 2013. 40 p.

[12] InterAcademy Council. Um futuro com energia sustentável: iluminando o caminho. São Paulo: FAPESP; Amsterdam: InterAcademy Council; Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências, 2010. 300 p.

Nota: Uma versão mais completa deste post sobre oferta e demanda de energia foi publicada anteriormente pela Sustenare na forma de artigo. Acesse-o pelo link: Equilíbrio entre oferta e demanda de energia.

Sobre o autor | Fernando Oliveira

Foto Fernando


Fernando é o fundador e editor da Sustenare. Ele é administrador de empresas, cientista da computação e doutor em energia pela Universidade de São Paulo (USP). Fernando morou nos Estados Unidos por dez anos, país onde cursou universidade e trabalhou por igual período para empresas de tecnologia e do ramo editorial.

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