Cientistas descobriram a temperatura em que a fotossíntese para

Imagem de uma floresta com um pouco de claridade entrando pelas árvores para ilustrar que cientistas descobriram a temperatura em que a fotossíntese para
A estabilidade política em países com florestas tropicais exerce um papel importante na garantia da proteção florestal. Foto: Stokpic/Pixabay.

Em todo o mundo, as folhas desempenham um papel central crítico para evitar os piores impactos das mudanças climáticas. Sua capacidade de reter CO2 e combiná-lo com água e luz solar para produzir alimentos e oxigênio é uma parte crítica do que mantém a vida na Terra em andamento. Mas, de acordo com um novo estudo publicado na Nature, algumas florestas tropicais – incluindo a floresta amazônica – podem se tornar quentes demais para que as folhas produzam a fotossíntese.

A floresta amazônica já foi um dos sumidouros de carbono mais poderosos do mundo, em grande parte por conta de sua cobertura arbórea excepcionalmente densa. Mas o desmatamento lentamente corroeu suas bordas, e a seca e o fogo limitaram a capacidade das florestas tropicais de resistir a temperaturas extremas. A Amazônia chegou a ser um emissor líquido de carbono pela primeira vez em 2021. Ainda assim, a Amazônia cobre uma área de terra aproximadamente duas vezes maior do que a da Índia, e está entre os ecossistemas mais biodiversos do planeta, com mais de três milhões de espécies de flora e fauna.

Tudo isso pode ser perdido se as temperaturas continuarem a aumentar, potencialmente transformando florestas tropicais – outrora exuberantes – em uma planície semelhante a uma savana. De acordo com o estudo da Nature, a fotossíntese em árvores tropicais começa a falhar [quando a temperatura chega] a aproximadamente 46,7 graus Celsius (°C).

Além de monitorar a copa das árvores usando torres de pesquisa e imagens de alta resolução da Estação Espacial Internacional, a equipe de pesquisa aqueceu folhas para testar os efeitos de temperaturas mais altas, identificando o limiar crítico no qual as enzimas necessárias para a fotossíntese se decompõem. Os dados foram coletados em intervalos curtos de dias em florestas de todo o mundo.

“Até agora, realmente não sabíamos qual era essa [temperatura]”, disse Gregory Goldsmith, professor de biologia da Universidade Chapman que trabalhou no estudo.

Embora isso não aconteça instantaneamente, longos períodos de calor aumentam o estresse nas folhas, eventualmente matando-as. Se muitas folhas morrem, a árvore morre também. E se muitas árvores morrem, o mesmo acontece com a floresta.

Contudo, até o momento, esse ponto de inflexão permanece principalmente teórico. Os autores descobriram que as temperaturas da copa das árvores entre 2018 e 2020 atingiram um pico de aproximadamente 34°C em média. Em um ano típico, em torno de 0,01% das folhas nas copas superiores ultrapassa a temperatura em que a fotossíntese começa a falhar. O aumento da temperatura global que está associado a essas mudanças é de cerca de 4°C, o que atualmente está em linha com as projeções do pior cenário.

“Como um grupo, não sentimos que este seja o nosso destino”, disse Goldsmith, embora ele e outros pesquisadores tenham enfatizado a importância de reduzir as emissões e cuidar dos ecossistemas florestais tropicais do planeta.

De qualquer forma, os pontos de inflexão são complexos e pode haver mais fatores a considerar do que o calor sozinho. Ainda não está claro como a seca e os incêndios florestais podem afetar as florestas tropicais, apesar algumas pareçam ser mais vulneráveis do que outras.

Entre as florestas que abrangem a América do Sul, a África central, o Golfo do México e o Sudeste Asiático, a Floresta Amazônica é a que mostra sinais mais claros de estresse térmico. A fragmentação, ou a quebra de grandes áreas de floresta em manchas menores por meio da extração de madeira e do desenvolvimento, também parece ser um grande estressor, principalmente porque as bordas da floresta são mais quentes e secas do que seu interior, diz Goldsmith.

Os pesquisadores dizem que a estabilidade política em países com florestas tropicais exerce um papel importante na garantia da proteção florestal, o que pode ajudar muito a aumentar a resiliência da floresta contra prognósticos catastróficos.

Em julho deste ano, o desmatamento na Amazônia caiu 66%, atingindo o menor patamar em seis anos. O novo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, prometeu criar iniciativas para desencorajar o desmatamento e a pecuária ilegal. Seu governo estabeleceu uma meta que intenciona parar totalmente o desmatamento até 2030.

Joshua Fisher, outro pesquisador que trabalhou no artigo da Nature, disse que a colaboração internacional que fez parte do estudo o deixou esperançoso por resultados semelhantes no nível político.

“De certa forma, você sabe, não parece tão assustador, porque estamos todos juntos na espaçonave Terra”, disse ele.

Artigo original (em inglês) publicado por Katie Myers na Grist. Assine a newsletter da Grist.


Sobre a autora
Katie Myers é bolsista na área de soluções climáticas.

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