Consumo de carne pode diminuir se adotarmos rótulos ecológicos

Foto de um sanduíche estilo cheeseburger com uma carne bem grossa, acompanhada de alface, tomate, queijo, picles e molho, para ilustrar título do artigo que diz que o consumo de carne pode diminuir se adotarmos rótulos ecológicos.
Estudo sugere que rótulos ecológicos foram responsáveis pela redução na escolha de carne entre o público estudado. Foto: J.R. Matins/Pixabay.

Houve um tempo em que fumar cigarros não era apenas uma coisa normal de se fazer, era um hábito realmente incentivado pelos médicos. Eventualmente, as evidências se manifestaram.

Algo semelhante tem acontecido com a carne nas últimas duas décadas. Declarações recentes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmam que a carne é prejudicial à saúde humana e ao planeta. Contudo, assim como aconteceu com o tabaco nas décadas de 1960 e 1970, esse conhecimento científico tem levado um tempo para ser incorporado ao comportamento do consumidor.

Mensagens como “fumar mata” e “fumar causa cegueira” ao lado de uma imagem gráfica são legalmente exigidas em todos os produtos de tabaco no Reino Unido desde 2008. Esses rótulos de advertência ajudaram a reduzir o número de fumantes em todo o país. Algo semelhante poderia funcionar para reduzir o consumo de carne? E se sim, qual seria o melhor alerta para as pessoas?

Um novo estudo [da Universidade de Durham] descobriu que rótulos gráficos de advertência reduziram as escolhas por refeições com carne entre 7% e 10% quando as consequências do consumo de carne para a saúde, epidemias de doenças e mudanças climáticas foram descritas.

Sobre o que vale a pena alertar?

Os rótulos de advertência em cardápios ou embalagens de carne podem destacar evidências de que uma ingestão relativamente alta de carne aumenta o risco de derrame e doenças cardiovasculares – além de demência, de acordo com outro estudo. Há também evidências de que o consumo de carne vermelha e processada resulta em um risco maior de desenvolver diabetes tipo 2, obesidade e vários tipos de câncer.

Os rótulos também podem alertar as pessoas de que [a criação de animal voltada para] a produção de carne aumenta drasticamente o risco de uma pandemia. Surtos de doenças zoonóticas (transmitidas de animais para humanos, como a COVID-19 ou a gripe suína) são mais prováveis de surgir onde os animais são mantidos em contato extremamente próximo. E na medida em que as fazendas se expandem para áreas selvagens, as espécies que são privadas de seus habitats migram para vilarejos e cidades onde o contato com as pessoas é mais provável.

A criação de aves tem sido relacionada com a propagação de estirpes virulentas da gripe aviária. Foto: Ralphs/Pixabay.

Rótulos de cardápios e produtos à base de carne também poderiam alertar as pessoas sobre os danos ambientais causados pelo consumo de carne. Estima-se que a pecuária seja responsável por até 15% de todas as emissões de gases de efeito estufa decorrentes da atividade humana. O Comitê de Mudanças Climáticas, que assessora o governo do Reino Unido, disse que o consumo de carne deve cair 20% até 2030 e 35% até 2050 para atingir a meta net zero do país.

Testando os rótulos

No estudo [da Universidade de Durham], um questionário online foi usado para pedir a 1.001 consumidores de carne do Reino Unido que escolhessem entre quatro opções para 20 refeições. Os participantes tinham que confirmar sua preferência clicando em uma imagem com uma opção de carne, peixe, vegetariana ou vegana para refeições como hambúrgueres, curry, lasanha e massas assadas.

Para avaliar o impacto dos rótulos de advertência no número de pessoas que optam pela carne, dividimos os participantes em quatro grupos. Um grupo viu um rótulo de advertência abaixo da opção de carne representando uma área desmatada e a frase “comer carne contribui para promover as mudanças climáticas”. Outro grupo viu a opção de carne rotulada com uma imagem de um homem tendo um ataque cardíaco e o texto “comer carne contribui para promover uma saúde ruim”. O terceiro grupo viu um rótulo abaixo da opção de carne representando animais enjaulados em um mercado úmido, ao lado da frase “comer carne contribui para promover pandemias”. O grupo final viu todas as quatro opções de refeições sem rótulos.

Quando nenhum rótulo de advertência foi apresentado, cerca de dois terços dos participantes escolheram as opções de carne (64%). Esse número caiu para 54% com os rótulos de advertência de pandemia, 55% com os rótulos de advertência à saúde e 57% com os rótulos de advertência climática.

A pecuária de corte destrói florestas e é fonte de metano – um potente gás de efeito estufa. Foto: Jorge Santana/Pixabay.

As intervenções governamentais para incentivar as pessoas a comer menos carne podem ser controversas, então permanece a questão sobre qual rótulo pode ser o mais adequado numa campanha de sensibilização da população. Em perguntas posteriores de acompanhamento do estudo, os participantes indicaram que não se opunham aos rótulos de advertência ecológica na carne, mas eram menos favoráveis aos rótulos que fizeram referência a riscos de saúde e de pandemias oriundos do consumo de carne.

Embora mais pesquisas sejam necessárias para reproduzir e confirmar essas descobertas, agora nós temos algumas evidências sugerindo que a adoção de rótulos de advertências ecológicas pode ser eficaz tanto na escolha de refeições como na relativa aceitação do público.

Artigo original (em inglês) publicado por Jack Hughes et al. na The Conversation.

Sobre os autores

Jack Huhes é doutorando em Ciência Comportamental na Universidade de Durham.
Mario Weick é professor em Ciência Comportamental na Universidade de Durham.
Milica Vasiljevic é professora associada em Ciência Comportamental na Universidade de Durham.

Nota: Jack Hughes é filiado ao Partido Verde. Mario Weick e Milica Vasiljevic não trabalham, não fazem consultoria, nem possuem ações ou recebem financiamento de qualquer empresa ou organização que se beneficiaria deste artigo, e não divulgaram nenhuma afiliação relevante além da acadêmica.

A Universidade de Durham fornece financiamento como membro da The Conversation UK.

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