Como as plantas podem mudar nosso estado de espírito

Imagem de uma mulher no meio de um campo florido para ilustrar post sobre como as plantas podem mudar nosso estado de espírito.
As plantas estão interligadas com o destino da espécie humana e profundamente enraizadas em quem somos como indivíduos. Foto: StockSnap/Pixabay.

As plantas parecem tão diferentes dos animais que para muitas pessoas é fácil considerá-las estranhas e separadas de nós. A maioria das pessoas aprecia a beleza das flores e das árvores e sabe que a fotossíntese é essencial para a vida. Mas nossa conexão mental e física com a vida vegetal é mais profunda do que você imagina. Como as plantas podem mudar nosso estado de espírito é o que veremos a seguir.

Aumentam cada vez mais as evidências científicas de que as plantas desempenham um papel fundamental na formação do nosso estado de espírito e na diminuição do risco de doenças mentais e físicas.

Elas podem reduzir os sintomas de depressão, ansiedade e transtorno de humor em humanos, reduzindo os níveis do hormônio do estresse cortisol, que pode diminuir a frequência cardíaca e promover nosso bem-estar.

Vários estudos têm mostrado que a terapia com horticultura pode ajudar algumas pessoas a controlar os sintomas de transtorno de estresse pós-traumático e melhorar sua qualidade de vida.

Elas podem até aumentar sua criatividade ao estimular seu cérebro com as cores vibrantes e naturais que elas possuem.

Uma crescente sensação de bem-estar

Mesmo aquela pequena planta em sua mesa pode ter um efeito mais potente sobre você do que você imagina. As plantas que você comprou para iluminar sua casa ou local de trabalho podem realmente ajudá-la a pensar com mais clareza. Estudos demonstraram que cercar-se de plantas pode melhorar sua concentração em até 20% e aumentar em 15 a 20% sua capacidade de recordar informações. As plantas fazem isso porque reduzem a concentração de dióxido de carbono (CO₂) e melhoram a qualidade do ar.

De acordo com as diretrizes do Executivo de Saúde e Segurança do Reino Unido (HSE), a concentração de CO₂ não deve ultrapassar 1.000 partes por milhão (ppm) em escritórios, porque nesse nível ela pode causar dores de cabeça, fadiga e tontura.

Além disso, concentrações de CO₂ acima de 1.000 ppm também podem nos levar a uma tomada de decisão mais pobre. Uma pesquisa mostrou que, em alguns casos, as plantas domésticas podem diminuir a concentração de CO₂ dentro de sua casa de 2.000 ppm para aproximadamente 480 ppm em menos de uma hora.

Plantas domésticas populares que removem eficientemente o CO₂ incluem a samambaia estrela azul (Phlebodium aureum), figos chorões (Ficus benjamina), plantas de aranha (Chlorophytum comosum) e espécies de antúrio.

 Antúrios são ótimas para reduzir os níveis de dióxido de carbono. Foto: Manfred Richter/Pixabay.

Algumas plantas, é claro, também podem alterar a química do nosso corpo – basta pensar nas muitas espécies que são usadas como drogas medicinais ou recreativas. É irônico que algumas pessoas vejam as plantas como algo que represente pouco mais do que verduras bonitas, quando na verdade os humanos as usam por dezenas de milhares de anos para aliviar a dor, relaxar e explorar diferentes estados de consciência.

Horticultura

As plantas têm sido fundamentais para a sociedade humana desde o início de nossa existência, mas a maneira como usamos e nos conectamos com as plantas mudou ao longo das gerações e ao longo das civilizações. Por depender das plantas para alimentação e remédios durante a era paleolítica (até 11.000 anos atrás), a sociedade moderna perdeu, de certa forma, a admiração e consciência pelas plantas.

O Banco Mundial estima que até o ano de 2050, sete em cada dez pessoas viverão em cidades e o acesso às plantas em seu ambiente natural se tornará mais desafiador – e nos tornaremos mais desconectados da natureza. Porém, apesar de todas as opções de conforto e lazer que a tecnologia do século 21 nos proporciona, parece que não conseguiremos nos afastar das plantas.

Os seres humanos têm “biofilia”, o que significa que estamos programados para buscar conexão com a natureza e com as plantas, pois em humanos elas aumentam os hormônios da felicidade, como a endorfina. Elas não estão apenas interligadas com o destino da espécie humana, mas profundamente enraizadas em quem somos como indivíduos. A forma, a cor, o cheiro, a sensação e o sabor das plantas podem nos animar no momento que interagimos com elas para que floresçam em nossas memórias.

Desde a sensação aveludada das pétalas das flores contra a ponta dos dedos, ao delicioso aroma dos óleos essenciais que elas liberam para atrair polinizadores, e ao sabor irresistivelmente suave do chocolate, as plantas têm atormentado nossos sentidos ao longo da história humana.

Todos nós temos diferentes memórias e experiências que nos fazem conectar com as plantas. Por exemplo, a planta que mais me deixa feliz e que evoca em mim um profundo sentimento de amor é a Crocus sativus ou saffron [açafrão] – inspiração que serviu para eu batizar minha primeira filha.

 Açafrão (Saffron): A filha do autor recebeu o nome dessa flor colorida. Foto: Julita/Pixabay.

Durante a pandemia COVID-19, as vendas de plantas na Grã-Bretanha aumentaram mais de 30%, pois as pessoas redescobriram a importância que elas têm para nosso bem-estar mental. Em 2021, o Reino Unido gastou mais de £ 7,6 bilhões em plantas, o que representa £ 1-2 bilhões a mais em comparação com os dois anos anteriores.

As plantas não são um luxo. Elas são parte de quem somos. Não é surpreendente descobrir que a palavra “planta” é traduzida em muitas línguas nativas como “aquelas que cuidam de nós”.

Artigo original (em inglês) publicado por Sven Batke na The Conversation.

Sobre o autor
Sven Batke é professor de Biologia na Universidade Edge Hill (Inglaterra) desde 2017. Em 2015 ele recebeu seu título de Ph.D. em Ecologia de Plantas Tropicais, pela Faculdade Trinity (Dublin, Irlanda). Seu trabalho se concentrou em como os eventos climáticos de alta intensidade, como furacões, podem alterar as comunidades de florestas tropicais epífitas.

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