Imagine se os humanos desaparecessem amanhã

Imagem de dois ônibus velhos, empoeirados e enferrujados, abandonados no meio de uma vegetação extensa serve de ilustração para que o leitor imagine se os humanos desaparecessem amanhã, o que aconteceria com nosso planeta.
Se os humanos desaparecessem repentinamente da Terra, a natureza seria capaz de se recuperar sozinha de nossa degradação. Foto: Creposucre/Pixabay.

O Antropoceno, ou a idade do homem, é um novo período geológico definido pelo enorme impacto que a humanidade exerce sobre o planeta Terra. O uso comum do termo Antropoceno remonta ao ano 2000 e é atribuído ao químico Paul Crutzen e ao cientista Eugene Stoermer. O termo também deu origem ao título de um livro e de um podcast, ambos do conhecido autor John Green.

Sou fascinado pelo Antropoceno desde a primeira vez que ouvi falar dele. A ideia de que uma espécie pode mudar tão fundamentalmente a trajetória de um planeta me confunde, mesmo quando leio evidências regularmente de que estamos fazendo exatamente isso.

O otimista tecnológico dentro de mim quer acreditar que os problemas que causamos são solucionáveis. É também a parte de mim que me dá esperança de continuar trabalhando no campo da economia circular. A ideia que muitas vezes me assusta, quando penso em como os humanos podem limpar a bagunça que estamos criando, é bem diferente: imagine se os humanos desaparecessem amanhã, de forma repentina, então o que aconteceria?

O livro “O Mundo Sem Nós“, do premiado jornalista e autor Alan Weisman, foi publicado em 2007, ano em que a revista Time o elegeu melhor livro de não ficção. Eu o li há mais de uma década, mas ainda penso nele quase que diariamente. Recentemente, o peguei novamente para dar uma olhada. O educador, autor e ambientalista Bill McKibben descreveu esse livro como “um dos maiores experimentos mentais de nosso tempo”. Se você me perguntar, ainda é assim hoje.

Weisman imagina em detalhes o que aconteceria com a Terra se os humanos desaparecessem completamente e quase que imediatamente.

O livro se baseia em resultados reais de lugares que já foram habitados por humanos e posteriormente abandonados, como a cidade balneária de Varosha, no Chipre – hoje deserta por conta da devastação causada pela invasão turca [há quase cinco décadas], ou o local do acidente nuclear de Chernobyl.

Prédio abandonado na cidade ucraniana de Pripyat, próximo ao local do desastre com a Usina Nuclear de Chernobyl.  Foto: Wendelin Jacober/Pixabay.

O livro também pede a especialistas – desde cientistas atmosféricos a refinadores de petróleo – para avaliarem o que aconteceria se os humanos não habitassem mais a Terra. Entre os meus exemplos favoritos, três incluem [a cidade de] Houston, a assinatura do solo tóxico e não natural que deixamos e o colapso da civilização maia.

Houston e a história da borracha

A história do legado petroquímico de Houston de certa forma começa, curiosamente, com um material natural. A borracha natural tem muitos usos práticos, mas se torna frágil quando muito fria, e mole quando muito quente. Charles Goodyear mudou tudo isso em 1839 com sua descoberta da vulcanização.

O resto da história se encaixa perfeitamente com nossa economia linear. A indústria de pneus explodiu no começo dos anos de 1900 e, no início da Segunda Guerra Mundial, a demanda por borracha natural e o uso da vulcanização seguiram em alta. A maior parte do suprimento de borracha dos EUA naquela época vinha do Sudeste Asiático – e ficar fora desse mercado durante a guerra levou os cientistas americanos ao desenvolvimento da borracha sintética.

Em outras palavras, como muitas coisas em nossa economia linear, um material natural que pode ser biodegradável foi suplantado por um material sintético que não pode, e tudo foi alimentado por petroquímicos.

“O Mundo Sem Nós” continua descrevendo o que eventualmente aconteceria com Houston se os humanos desaparecessem (pense em incêndios, explosões, plumas tóxicas e uma recuperação muito lenta), mas não vou entrar nesses detalhes sanguinolentos aqui.

Saúde do solo ou a falta dela

O legado humano no solo da Terra parece uma boa transição da indústria petroquímica para a história da civilização maia. Quando se trata de solo, vamos apenas concordar que os humanos não fizeram nenhum favor.

Adicionamos produtos químicos sintéticos intencionalmente e não intencionalmente e deterioramos a qualidade e a quantidade do solo por meio da monocultura e de outras atividades humanas. Também fizemos um péssimo trabalho ao usar os nutrientes que extraímos do solo e devolvê-los ao seu devido lugar.

Exploração de recursos naturais numa mina a céu aberto. Foto: Jan Mallander/Pixabay.

As impressões digitais tóxicas de nossa existência incluem aumentos de metais pesados, poluentes orgânicos persistentes e acidificação. Isso está, novamente, a serviço de uma economia extrativista que favorece ganhos de curto prazo em detrimento da sustentabilidade de longo prazo.

O colapso da civilização maia

A história do povo maia ainda surpreende os pesquisadores. Todas as evidências apontam para uma sociedade que sobreviveu – ou melhor, prosperou – por pelo menos 1.600 anos em uma existência amplamente pacífica.

Em algum momento, porém, essa ordem quebrou e alguma combinação de seca, escassez de alimentos, ganância e guerra destruiu rapidamente tudo o que havia sido construído. Em apenas 100 anos, a civilização maia se foi. Independentemente da combinação de fatores que provocaram o seu desaparecimento, no entanto, as práticas extrativistas, a ganância e o crescimento a qualquer custo estavam no centro.

Agora é hora de você usar aqui a sua imaginação

Então, o que fazemos sobre isso? Costumo falar sobre a necessidade de usar a criatividade e desaprender nossos hábitos e práticas lineares profundamente arraigados para avançar em direção a um futuro circular. Acho que ler um livro como “O Mundo Sem Nós” e pensar sobre essa nova era geológica que criamos pode ser instrutivo nesse sentido.

Com isso, meu desafio em primeiro lugar é pedir para suas organizações que visualizem a marca indelével que qualquer novo produto ou serviço pode deixar no planeta, de forma positiva ou negativa, e pesar isso em relação ao valor geral de colocá-lo no mundo.

Para mim, é intrigante que, porque alteramos o planeta tão rapidamente e tão exaustivamente, talvez também tenhamos uma capacidade semelhante para consertá-lo? Se a degradação do planeta foi causada por forças externas, pode ser difícil entender como resolver o problema. Como fomos nós que criamos o problema, talvez possamos apenas fazer a engenharia reversa para obter melhores resultados?

Artigo original (em inglês) publicado por Jon Smieja, na GreenBiz.

Sobre o autor
Jon Smieja é vice-presidente e analista sênior de economia circular no Grupo GreenBiz, onde lidera a estratégia, programas e parcerias de circularidade da empresa. Sua equipe conecta as partes interessadas e as soluções de toda a cadeia de valor para cultivar uma comunidade de prática, na qual os profissionais são capacitados para transformar produtos, organizações, indústrias e sistemas.  Twitter:
@jonsmieja

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