Reciclar lixo eletrônico é uma oportunidade econômica enorme

Foto de uma lixeira transbordando dos mais diversos aparelhos eletrônicos como forma de ilustrar que reciclar lixo eletrônico é uma oportunidade econômica enorme.
De forma inerente, existe muito valor armazenado em materiais de lixo eletrônico. Foto: Fernando Oliveira/Sustenare.

Sou rápido em admitir quando fico aquém de minhas aspirações de economia circular em minha vida pessoal. Pegue o número de eletrônicos (desatualizados e não utilizados) espalhados pela minha casa. O inventário atual inclui vários tablets, dois laptops e um punhado de celulares antigos. Eu até tenho um iPod Nano de terceira geração em algum lugar. O que quero dizer é que muitos de nós temos armários e gavetas cheios dessas coisas – e isso representa uma grande chance perdida para a economia circular. Em outras palavras, reciclar lixo eletrônico é uma oportunidade econômica enorme.

Para entender melhor o tamanho dessa oportunidade, visitei uma instalação de coleta de eletrônicos que fica perto de minha casa no estado de Minnesota [EUA]. A Repowered, com sede em Saint Paul, já processou mais de 18 milhões de quilos em eletrônicos desde que abriu suas portas em 2011.

A Repowered processa qualquer coisa que tenha cabo, exceto os “produtos de linha branca”, como geladeiras, fogões, lavadoras e secadoras. Com cerca de 1,4 milhão de quilos processados por ano, a Repowered lida com 5% do total do lixo eletrônico que é coletado no estado.

Além de processar lixo eletrônico, a Repowered defende políticas que visam aumentar a reciclagem de eletrônicos no estado e publicou recentemente um relatório de pesquisa sobre a oportunidade que existe em Minnesota (com co-autores do Macalester College e da Iron Range Partnership for Sustainability). A seguir, cito três coisas que aprendi com seu novo relatório e com a visita [que fiz às instalações da empresa].

1. A escala do problema é grande

De acordo com o relatório de monitoramento de lixo eletrônico 2020 das Nações Unidas, os Estados Unidos geram cerca de 20 kg de lixo eletrônico per capita anualmente – e no mundo, mais de 53 milhões de toneladas métricas de lixo eletrônico são produzidas todos os anos. Talvez sem surpresa, mas ainda assim de forma alarmante, apenas 17% desse lixo é devidamente coletado, documentado e reciclado a cada ano em todo o mundo. Grande parte dos 83% restantes do lixo eletrônico fica ociosa em residências e empresas ou é descartada de maneira inadequada, de acordo com a análise.

Embora o lixo eletrônico ainda seja menor do que o lixo plástico (cerca de 300 milhões de toneladas métricas por ano) e o lixo têxtil (cerca de 90 milhões de toneladas métricas), os resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos (REEE) representam o fluxo de resíduos que mais cresce no mundo: de 3 a 5% anualmente. Este é um feito impressionante, considerando o crescimento de resíduos plásticos (mais de 2% ao ano, entre 2010 e 2021 nos EUA) e têxteis (mais de 3% ao ano, entre 2010 e 2018 nos EUA). Qual é a maior diferença entre os REEE e os seus homólogos de plástico e têxteis? O valor dos materiais que estão dentro, se puderem ser recuperados de forma eficiente. Ou seja, o lixo eletrônico pode ser incrivelmente valioso.

2. Reciclar lixo eletrônico é uma oportunidade econômica enorme

Qual o valor do lixo eletrônico? Considere meu estado natal, Minnesota, onde cerca de 120 milhões de quilos de lixo eletrônico são produzidos a cada ano. Isso significa que o estado está sobre uma montanha de materiais que representam um valor anual estimado de mais de US$ 2,8 bilhões, de acordo com o relatório da Repowered, mencionado anteriormente.

Imagem adaptada do relatório “The Economic Potential of E-Waste Recycling in Minnesota”.

Os metais mais comuns encontrados no lixo eletrônico são ferro, cobre, estanho e alumínio – juntos, eles representam mais de 90% do peso. No entanto, os metais com maior valor são o paládio (mais de US$ 1,5 bilhão em lixo eletrônico produzido por Minnesota anualmente), platina (cerca de US$ 1 bilhão) e cobre e estanho (cerca de US$ 100 milhões cada). De acordo com o relatório, se 100% do lixo eletrônico em Minnesota fosse reciclado a cada ano, isso representaria:

• A recuperação de 35 milhões de quilos de materiais valiosos;

• A criação de mais de 1.700 postos de trabalho;

• Prata suficiente para fabricar 440.000 painéis solares;

• Cobre suficiente para 155.000 veículos elétricos.

Ou seja, reciclar lixo eletrônico é uma oportunidade econômica enorme que vem acompanhada de uma igualmente enorme oportunidade ambiental, de emprego e de abastecimento interno.

Caixas cheias de cabos e conectores de aparelhos eletrônicos para ilustrar que reciclar lixo eletrônico é uma oportunidade econômica enorme
Caixas cheias de cabos e conectores que foram removidos de computadores desktop da empresa Repowered. Foto: GreenBiz/Reprodução.

3. O trabalho é duro

Gerenciar o lixo eletrônico não é uma tarefa fácil. Primeiro, organizações como a Repowered devem destruir os dados confidenciais [contidos nos aparelhos eletrônicos] com segurança. Em seguida, para maximizar o valor do lixo eletrônico, os componentes devem ser separados para que possam ser devidamente classificados e enviados para as próximas etapas do processo.

A tarefa trabalhosa de separação e classificação de eletrônicos pode ser melhorada se os fabricantes considerarem mais a circularidade e a reciclagem em seu projeto inicial. Esses redesenhos de produtos de inspiração circular os tornariam mais fáceis de atualizar, reparar e, finalmente, desmontar para reciclagem – e beneficiariam toda a indústria. Também ajudaria a garantir uma fonte confiável de materiais no futuro.

Por último, nem sempre é fácil encontrar mão-de-obra para trabalhos como este. A Repowered tem um modelo interessante quando o assunto é o desafio trabalhista. Ela é uma empresa social e sem fins lucrativos registrada como 501(c)(3) [isso significa que ela é isenta de taxas governamentais por atuar em um dos setores: religioso, educacional, científico, literário, caridade, segurança pública, etc.].

A Repowered emprega pessoas que geralmente enfrentam barreiras para o emprego, muitas vezes os egressos do sistema de justiça ou pessoas que estão se recuperando de algum vício. Tais empregos preparam essas pessoas para futuros empregos e fornecem treinamento e um histórico de trabalho que podem ajudá-las a expandir suas oportunidades.

Aqui vão as principais conclusões de minha visita à Repowered e da leitura que fiz sobre seu relatório. Primeiro, a oportunidade para aumentar as taxas de reciclagem de eletrônicos é enorme. Em segundo lugar, antes de podermos aproveitar tais oportunidade, devemos superar as preocupações das pessoas sobre o descarte de aparelhos eletrônicos que podem conter informações confidenciais – e devemos tornar isso conveniente. Por último, regulamentação e/ou incentivos podem ser necessários para aumentar as taxas de reciclagem de onde elas realmente precisam acontecer. A boa notícia é que existe de forma inerente muito valor armazenado em materiais de lixo eletrônico, então existe um caso de negócios que permite descobrir isso.

Artigo original (em inglês) publicado por Jon Smieja, na GreenBiz.

Sobre o autor
Jon Smieja é vice-presidente e analista sênior de economia circular no Grupo GreenBiz, onde lidera a estratégia, programas e parcerias de circularidade da empresa. Sua equipe conecta as partes interessadas e as soluções de toda a cadeia de valor para cultivar uma comunidade de prática, na qual os profissionais são capacitados para transformar produtos, organizações, indústrias e sistemas.  Twitter:
@jonsmieja

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