Como a IA está transformando a profissão da sustentabilidade

Imagem da metade do rosto de uma mulher como pano de fundo, e como pano de frente há cinco fileiras de números 0 e 1, intercalados com os nomes "sustentabilidade, relatório, dados, planilha, gráficos e resultados" para ilustrar artigo sobre como a IA está transformando a profissão da sustentabilidade.
Imagine a IA fazendo uma análise de dois ou mais relatórios com uso intensivo de dados e apresentar resultados comparativos. O que isso representaria para a profissão da sustentabilidade? Foto: Geralt/Pixabay.

Aplicamos testes do mundo real ao ChatGPT e a outros cinco chatbots de Inteligência Artificial (IA) – programas de computador projetados para conversar com usuários humanos. Os resultados foram impressionantes! Mas como a IA está transformando a profissão da sustentabilidade? Como isso pode afetar o seu trabalho? Faça uma pergunta, obtenha uma resposta – talvez até uma boa.

É hora de superar a empolgação sobre chatbots de IA (e conversas imaginárias com eles) e começar a mensurar seu valor para os profissionais do campo da sustentabilidade, em circunstâncias quase reais.

No mundo da IA e dos chatbots, é muito cedo para o que parece ser uma jornada num foguete de inovação. O ChatGPT – uma das ferramentas mais conhecidas desse tipo – tem apenas seis meses de idade, embora tenha apresentado um crescimento fenomenal.

Uma medida comparativa: o Spotify levou 4,5 anos para atingir 100 milhões de usuários mensais ativos. O Instagram demorou 2,5 anos. O ChatGPT alcançou tal marca em apenas dois meses, de acordo com Paul Baier, consultor de IA que trabalha com a Harvard Business School, entre outros lugares, em estratégia de IA.

O ChatGPT pode ser o mais conhecido, embora dificilmente o único, dos mecanismos de IA generativa – tecnologia de inteligência artificial que pode produzir vários tipos de conteúdo, incluindo textos, imagens, áudios e dados. Aqui está uma lista de 131 chatbots construídos na plataforma ChatGPT. Existem várias outras plataformas, cada uma com seus próprios chatbots derivados. Sem dúvida, ainda virão inúmeras outras. (E esses são principalmente bots em inglês. A China, por exemplo, tem o Ernie, que estreou em março.)

Então, qual é o valor de tudo isso para um profissional de sustentabilidade? A resposta para essa pergunta é um alvo em movimento rápido, na medida em que a tecnologia de IA generativa progride num ritmo surpreendente. O uso mais conhecido para chatbots é fazer perguntas complexas e simples em inglês e obter respostas longas e um tanto detalhadas. (Mais sobre isso em instantes.)

O próximo nível de sofisticação permite que um usuário insira uma larga quantidade de texto – um relatório científico, um discurso, um artigo de revista, um memorando, talvez todos estes itens – e peça para um chatbot resumir tudo e evidenciar os pontos mais importantes.

Os chatbots também estão fazendo isso com os dados, de forma crescente. Imagine inserir um relatório de sustentabilidade ou uma planilha com muitos dados e perguntar para o chatbot: “O que tudo isso significa, de fato?” Tenho certeza que em breve você poderá pedir a uma dessas ferramentas para comparar relatórios de duas ou mais empresas e obter resultados comparativos.

No ritmo atual de mudança, isso pode ser possível acontecer no tempo em que você levou para terminar de ler esta frase.

A Inteligência Artificial processa uma quantidade absurdamente enorme de dados de forma extraordinariamente instantânea. Foto: Iuri Motov/Freepik.

Cinco perguntas

Decidi testar seis chatbots para ver como eles lidam com o mundo complexo e cheio de nuances dos negócios sustentáveis. Para cada um, apresentei cinco perguntas que refletem aquelas que os profissionais de sustentabilidade poderiam fazer. O objetivo era ver se e como esses chatbots em estágio inicial entendiam e respondiam a perguntas que não eram simples e como eles se comparavam.

Os seis bots que consultei foram o ChatGPT, desenvolvido pela OpenAI e apoiado pela Microsoft; Monica, versão de última geração do ChatGPT, da OpenAI; Bard, o chatbot de entrada da Google no campo da AI; Claude, produzido pela Anthropic, empresa de pesquisa de IA; e dois chatbots com foco em sustentabilidade — GreenGPT e Climate Q&A, este último projetado especificamente para responder a perguntas relacionadas ao clima, usando informações dos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.

As cinco perguntas que fiz:

• Sou um executivo de sustentabilidade de uma grande empresa. Como você convenceria o CEO de que a empresa precisa se comprometer com emissões líquidas de carbono zero até 2030 ou 2040?

• Sou um profissional da cadeia de suprimentos e estou pensando em mudar de emprego. Quero trabalhar para uma empresa que valorize a sustentabilidade em sua cadeia de suprimentos e trabalhe para descarbonizar as matérias-primas que compra. Que perguntas devo fazer a um potencial empregador para avaliar se ele é um líder nessa área?

• Como você explicaria a economia circular para minha equipe de vendas de forma que cada integrante possa explicá-la aos clientes? Minha empresa fabrica móveis para ambientes externos e vende diretamente para varejistas que não entendem de sustentabilidade ou economia circular.

• Como os relatórios de sustentabilidade corporativa estão evoluindo, especialmente entre as empresas líderes do setor de bens de consumo embalados (CPG).

• Nós agradeceríamos a oportunidade de conversar com outras empresas que possuem programas de gestão hídrica. Quais abordagens resultaram em sucesso e quais não foram bem sucedidas? Como uma empresa pode mensurar o sucesso de forma quantitativa?

Eu criei as três primeiras perguntas e as duas últimas são na verdade consultas reais de membros da Rede Executiva da GreenBiz, uma das redes de pares para profissionais de sustentabilidade convocados pelo Grupo GreenBiz. Entre outras coisas, essas redes permitem que os membros consultem outros membros de forma confidencial e anônima para obter insights, experiências e conselhos sobre uma ampla gama de desafios e questões de sustentabilidade.

Não vou começar a resumir as mais de 10.000 palavras de respostas geradas por esses bots. Em vez disso, criei um PDF para download contendo as respostas literais para todas as cinco consultas. É suficiente dizer que o que eles geraram – em segundos – foi bastante impressionante. Você pode decidir qual chatbot, se houver um, teve o melhor desempenho.

1.000 estagiários

Lembre-se de que os chatbots tendem a fornecer informações incorretas, desatualizadas ou enganosas. Eles também podem inventar coisas, pura e simplesmente, às vezes para o perigo de seus próprios indagadores. Isso se tornou um marco nas histórias de tecnologia e da mídia em geral.

Chatbots também podem inventar coisas, passar informações incorretas e serem usados para “turbinar” fraudes e golpes. Foto: Macrovector/Freepik.

Todavia, de acordo com Paul Baier, o problema não parece tão generalizado ou desconcertante quanto a mídia fez parecer, especialmente se as respostas do chatbot forem revisadas por humanos experientes.

Um chatbot típico “é 99% preciso e 1% extremamente impreciso”, disse Baier. Analogamente, “eu chamo isso de 1.000 estagiários ao seu alcance para fornecer dados, e então você precisa ter um humano para fazer o trabalho final”.

Baier é um forte defensor de que os profissionais entrem no mundo da IA e do chatbot mais cedo do que mais tarde. Suas publicações na GAI Insights (ex-ChatGPTnuggets) ajudam os não especialistas a acompanharem o estado da arte no assunto.

“Todo mundo vai ter que entender sobre isso, do contrário ninguém vai ter uma carreira relevante daqui a cinco anos”, ele me disse. “É tipo dizer que você nunca usaria o Microsoft Office 365 ou as nuvens. Isso é assim, transformador.”

E mais inovações já estão acontecendo.

Entre as mais recentes está o ChatGPT Code Interpreter, um nome técnico que não faz jus ao seu potencial. Na verdade, é um plugin para ChatGPT que pode aumentar suas habilidades. Ele já está sendo usado para agrupar vastas coleções de dados ou desempenhar tarefas como edição de vídeo ou quaisquer outras tarefas que antes eram realizadas por humanos ou por computadores poderosos rodando um software sofisticado.

O Code Interpreter “é impressionante”, disse Baier. “No momento, é uma versão beta inicial, mas você pode ver vídeos no YouTube em que alguém pega uma planilha complexa do Excel – digamos uma planilha de Escopo 1, Escopo 2, Escopo 3 para uma grande empresa da Fortune 500 – e perguntar: ‘O que há nela?’ O que costumava ser feito por um analista de negócios que cobrava de $80 mil a $90 mil dólares, agora você pode fazer o mesmo em minutos.”

Tudo isso logo se tornará barato e onipresente, disse Baier.

“Hoje, você pode facilmente ter seu próprio chatbot que usa o ChatGPT com seus próprios dados e colocar suas próprias regras nele por menos de $1.000 dólares. Dentro de um ano, isso vai custar menos de $100 dólares para que todos possam ter seu próprio chatbot personalizado.”

Cem dólares! Sem dúvida, em um futuro não muito distante, vamos dar gargalhadas por já termos pago tanto pelo que provavelmente será um aplicativo quase que gratuito – algo muito parecido com a própria Internet.

A propósito, nada disso diminui as muitas armadilhas potenciais da IA, incluindo sua capacidade de espalhar desinformação sobre o clima “de forma muito mais barata e mais rápida” do que jamais vista, de acordo com um estudo recente, bem como a pegada climática significativa de toda essa tecnologia, com base na energia consumida para treinar e executar os grandes modelos de linguagem que sustentam esses chatbots. E na semana passada, conforme relatado pela Bloomberg, a presidente da Federal Trade Commission, Lina Khan, alertou que a IA já está sendo usada para “turbinar” fraudes e golpes.

Será uma viagem difícil, a qual indubitavelmente vai provocar uma reviravolta na profissão da sustentabilidade, assim como na de muitas outras.

Artigo original (em inglês) publicado por Joel Makower, GreenBiz.

Cortesia das imagens: Freepik. Imagem 2 | Imagem 3.

Sobre o autor
Joel Makower é presidente e cofundador do GreenBiz Group, uma empresa de mídia e eventos com foco na interseção de negócios, tecnologia e sustentabilidade. Por mais de 30 anos e por meio de sua escrita, fala e liderança, ele tem ajudado empresas a alinhar questões ambientais e sociais prementes com o sucesso dos negócios. Twitter/X:
@makower

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