Cidades mais verdes podem reduzir 25% das mortes prematuras

Imagem aérea de um parque urbano cheio de árvores para ilustrar que cidades mais verdes podem reduzir 25% das mortes prematuras.
Aumentar a cobertura arbórea urbana em 30% protegeria a vida das pessoas que vivem nas cidades. Foto: Nerea Sesarino/Unsplash.

Viver em áreas urbanas traz um risco à saúde que é inerente à realidade diária de bilhões de pessoas em todo o mundo. Isso porque uma das maiores ameaças são as temperaturas sufocantes – que podem ser um fenômeno do verão ou um problema durante o ano inteiro, dependendo de onde você mora. As altas temperaturas da cidade não são apenas uma questão de desconforto. Todos os anos, milhares de mortes são atribuídas ao calor urbano excessivo. Continue lendo para saber como cidades mais verdes podem reduzir 25% das mortes prematuras decorrentes deste calor.

Um novo estudo, publicado na revista médica The Lancet, estimou que o plantio de mais árvores nas cidades poderia evitar mais de um terço dessas mortes prematuras.

Os pesquisadores identificaram 6.700 mortes prematuras em 93 cidades europeias que podem ser atribuídas ao excesso de calor no verão. Eles então modelaram o impacto de aumentar a cobertura de árvores da cidade para 30%. Os resultados mostraram que esse nível de cobertura de árvores nas mesmas 93 cidades europeias evitaria 2.644 mortes prematuras – ou seja, mais de um terço do total.

Ilhas de calor urbanas

Aumentar as áreas sombreadas nas cidades com o plantio de mais árvores reduziria a temperatura média em 0,4°C, de acordo com a equipe por trás do estudo na The Lancet. Isso limitaria as ameaças à saúde representadas por um fenômeno conhecido como efeito de ilhas de calor urbanas (UHIs, do inglês), as quais ocorrem quando as superfícies de edifícios, estradas e calçadas absorvem o calor do sol, elevando a temperatura nas cidades e em outras áreas construídas.

O efeito de ilha de calor urbana faz com que as cidades se tornem muito mais quentes do que as áreas rurais. Imagem adaptada do Lawrence Berkeley National Laboratory.

O infográfico acima mostra como as temperaturas aumentam de acordo com a densidade do desenvolvimento urbano. Cientistas do Lawrence Berkeley National Laboratory dizem que uma tarde quente e ensolarada pode aumentar de 1 a 3°C a temperatura nas áreas urbanas, em comparação com o ar nas áreas rurais próximas.

A capital do Japão, Tóquio, é um bom exemplo de como o desenvolvimento urbano pode aumentar as temperaturas. O efeito UHI em Tóquio fez com que a temperatura média subisse 3°C nos últimos 100 anos.

Quando cidades como Tóquio ficam mais quentes, o uso de ar-condicionado aumenta juntamente com o uso de energia e as emissões de carbono. Por sua vez, isso cria condições para que as cidades fiquem ainda mais quentes, representando uma ameaça também maior à saúde pública.

Cidades mais frescas e mais saudáveis

Esverdear nossas cidades com árvores e trazer a natureza de volta aos ambientes urbanos pode ajudar a superar alguns dos maiores desafios enfrentados pelas populações urbanas crescentes do mundo.

Em 2022, o Fórum Econômico Mundial publicou um relatório analisando os benefícios que poderiam ser gerados ao mudar a relação existente entre a natureza e nossas cidades.

O relatório BiodiverCities até 2030 convida os líderes e as populações das cidades para que possam desempenhar um papel crucial na reversão da perda da natureza. O documento detalha alguns riscos e oportunidades surpreendentes que são decorrentes da relação entre o desenvolvimento urbano e a natureza.

Em primeiro lugar, o relatório constata que 44% do PIB global está em risco de interrupção por conta da perda da natureza. Reverter o declínio da natureza apresenta uma oportunidade de investimento de US$ 583 bilhões em soluções baseadas na natureza e na preservação de terras não desenvolvidas. O resultado desses investimentos está na potencial criação de 59 milhões de empregos até 2030 e um retorno total sobre o investimento de US$ 1,5 trilhão.

O investimento em soluções verdes para os desafios urbanos é uma oportunidade de trilhões de dólares. Imagem adaptada do Fórum Econômico Mundial.

Várias áreas de investimento detalhadas no gráfico acima podem exercer grande efeito sobre a redução dos impactos dos UHIs na saúde. Iniciativas de economia de terra que evitam a expansão urbana e a criação de mais infraestrutura de absorção de calor ajudarão a manter as temperaturas baixas enquanto protegem a natureza e a biodiversidade.

Transformar telhados e superfícies de edifícios em jardins urbanos proporcionará novos habitats para a vida selvagem no coração de nossas cidades. Os telhados verdes absorvem muito menos calor do que as superfícies de concreto, criando a oportunidade para a redução das temperaturas nos ambientes urbanos.

Natureza urbana para todos

Na medida em que aumentam os esforços para trazer mais cobertura de árvores para as áreas urbanas, será importante garantir que todos os cidadãos aproveitem os benefícios de forma igualitária. Uma pesquisa sobre iniciativas anteriores de esverdeamento urbano, publicada na Nature, descobriu que alguns projetos resultaram na gentrificação [possuir certa condição nobre] de distritos, consequentemente disparando o valor dos aluguéis e o preço dos imóveis.

Isso, por sua vez, pode excluir do contexto as pessoas que são historicamente marginalizadas, principalmente com relação a sua raça e renda. O relatório conclui que, apesar das melhores intenções, “as intervenções tornam-se inseridas em processos que contribuem para o afastamento dos próprios residentes, aos quais a arborização urbana muitas vezes deveria beneficiar”.

A iniciativa UpLink do Fórum Econômico Mundial está trabalhando com inovadores e parceiros corporativos em todo o mundo em soluções baseadas na natureza para a crise climática. Já a iniciativa 1t.org tem como meta plantar um trilhão de árvores até 2030. Este projeto é focado principalmente na restauração florestal, mas a UpLink também está trabalhando com parceiros em projetos para ampliar a cobertura arbórea nas cidades.

A ecologista urbana Mariellé Anzelone tem a missão de convencer as pessoas em Nova York de que preservar e aumentar a cobertura verde natural trará benefícios ambientais e ajudará os moradores a terem vidas mais saudáveis. Sua iniciativa #popupforest está envolvendo cidadãos e escolas com o objetivo de ver mais árvores plantadas na cidade, tornando as ruas mais verdes e trazendo a biodiversidade de volta para as áreas que foram zonas livres de natureza por décadas. Você pode assistir a história de Anzelone neste vídeo.

Tanto a experiência do mundo real quanto a pesquisa científica demonstraram os benefícios que as árvores urbanas trazem. Se agirmos intencionalmente e aumentarmos significativamente o número de árvores em nossas cidades, poderemos reduzir suas temperaturas em até 2,9°C e proteger milhares de pessoas que têm suas vidas ameaçadas pelo impacto do calor urbano excessivo.

Artigo original (em inglês) publicado por Akanksha Khatri e Cristina Reyes no Fórum Econômico Mundial–WEF.

Sobre as autoras

Akanksha Khatri
Chefe da Agenda de Ação da Natureza para a Plataforma de Bens Públicos Globais do WEF, função na qual liderou a New Nature Economy Reports Series, defendendo como integrar a questão da natureza e da biodiversidade na tomada de decisões econômicas. Ela é bacharel pela Universidade Jawaharlal Nehru (Índia) e mestre em Assuntos Internacionais pela Universidade de Columbia (EUA).


Cristina Reyes
Gerente Sênior com proficiência em acordos multilaterais, diplomacia científica e assuntos públicos. Ela é especializada em finanças sustentáveis, marcos internacionais de biodiversidade e inovação para a sustentabilidade.

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