Cinco tecnologias humanas inspiradas na natureza

Imagem de um tubarão no mar para ilustrar as cinco tecnologias humanas inspiradas pela natureza. Foto: Gerald Schömbs/Unsplash
Muitas das inovações da humanidade foram inspiradas no mundo natural. Foto: Gerald Schömbs/Unsplash

Ao longo de milhões de anos a natureza desenvolveu soluções para que pudesse se adaptar a uma série de desafios. Na medida em que eles se tornam mais complexos para a humanidade, vemos cada vez mais a inspiração ser extraída da natureza. A aplicação de processos biológicos para a solução de problemas tecnológicos e de design é chamada de bioinspiração – campo em rápido crescimento e cuja capacidade de copiar a natureza está se tornando cada vez mais sofisticada. Veja a seguir cinco tecnologias humanas inspiradas na natureza e que são exemplos impressionantes de como ela guiou a inovação humana e de como, em alguns casos, isso pode resultar em descobertas ainda mais empolgantes.

1. Navegação

Usando a ecolocalização, os morcegos são capazes de voar em total escuridão, emitindo ondas sonoras e de ultrassom para, em seguida, monitorar o tempo e a magnitude dos reflexos dessas ondas e poder criar mapas espaciais tridimensionais de seus arredores.

Quando os carros modernos dão ré, seus sensores são inspirados na navegação dos morcegos para identificar obstáculos. A direção e a distância de um obstáculo são calculadas pela emissão de ondas ultrassônicas que refletem os objetos que estão no caminho de um carro.

O conceito de ecolocalização foi adotado por muitas tecnologias da vida moderna. Foto: Cortesia do autor/Reprodução.

Tecnologias de navegação sensorial também são propostas para melhorar a segurança de pessoas que apresentam restrição visual. Sensores de ultrassom instalados no corpo humano podem oferecer feedbacks baseados nos sons do ambiente em torno de uma pessoa. Isso permitiria a pessoa se mover com mais liberdade, eliminando a ameaça de obstáculos.

2. Equipamento de construção

Os pica-paus batem na superfície dura das árvores para procurar comida, construir ninhos e atrair um(a) parceiro(a). Algumas ferramentas de construção, como os martelos hidráulicos e pneumáticos portáteis, imitam a vibração do bico de um pica-pau usando uma frequência em torno de 20 a 25 Hz – equivalente ao martelar da ave.

Os pica-paus batem na superfície dura das árvores para procurar comida, construir ninhos e atrair um(a) parceiro(a). Foto: Hans Veth/Unsplash

Mas a vibração dessas ferramentas elétricas pode danificar as mãos dos trabalhadores da construção. Isso pode, em alguns casos, provocar uma condição em que os pacientes sentem dormência e dores permanentes nas mãos e nos braços.

Pesquisas agora estão focando em como os pica-paus protegem seus cérebros contra os impactos da perfuração repetida. Um estudo descobriu que os pica-paus têm várias adaptações de absorção de impacto que outras aves não possuem.

Seu crânio é adaptado para ser resistente e duro, e sua língua envolve a parte de trás do crânio e se ancora entre os olhos. Esse mecanismo protege o cérebro do pica-pau ao suavizar o impacto do martelar e das vibrações.

Pesquisas como esta estão servindo de guia para o design de amortecedores e dispositivos de controle de vibração capazes de proteger os usuários de tais equipamentos. O mesmo conceito também inspirou inovações, como as estruturas em camadas para a absorção de choques nas construções.

3. Design de construção

As vieiras (também conhecidas como scallops) são moluscos com conchas externas onduladas em forma de leque. A forma em zigue-zague dessas ondulações fortalece a estrutura da casca, permitindo que ela resista a altas pressões sob a água.

O mesmo processo é usado para aumentar a resistência de uma caixa de papelão, com material de papelão ondulado sendo colado entre as duas camadas externas. A introdução de uma superfície ondulada aumenta significativamente a resistência de um material, da mesma forma que dobrar um pedaço de papel em forma de zigue-zague permite que ele suporte uma carga adicional.

Um pedaço de papel dobrado em forma de zigue-zague pode suportar cargas pesadas.
Foto: Cortesia do autor/Reprodução.

A estrutura em forma de cúpula apresentada pela concha da vieira também permite que ela suporte cargas significativas. Essa estrutura é autoportante, pois distribui o peso uniformemente por toda a forma da cúpula, evitando que a carga se concentre em um único ponto. Tal comportamento melhora a estabilidade da estrutura – sem a necessidade de reforço de vigas de aço – e tem inspirado projetos de muitos edifícios, incluindo a Catedral de St. Paul, em Londres.

4. Aerodinâmica no transporte

Os tubarões têm duas barbatanas dorsais que fornecem várias vantagens aerodinâmicas, dentre as quais: impedir que eles rolem e aumentar a eficiência de seu deslocamento em função do formato de aerofólio – o qual cria uma área de baixa turbulência atrás deles.

As barbatanas do tubarão foram replicadas no transporte motorizado. Por exemplo, os carros de corrida usam “barbatanas” para reduzir a turbulência quando estão em alta velocidade, além de melhorar a estabilidade nas curvas.

Muitos carros de passeio agora têm uma pequena “barbatana de tubarão” instalada no teto, útil para integrar sua antena de rádio. Isso reduz o arrasto em comparação com a antena de poste tradicional.

Antena de barbatana de tubarão em um carro moderno. Foto: Cortesia do autor/Reprodução.

Também nos inspiramos na natureza para aumentar a eficiência do voo das aeronaves. As asas de uma coruja atuam como um sistema de suspensão; mudando a posição, forma e ângulo de suas asas, são capazes de reduzir o efeito de turbulência durante o voo. E a pesquisa sobre o voo da coruja pode abrir as portas para que no futuro possamos fazer viagens aéreas livres de turbulência.

5. Mecanismo de fixação

O mecanismo de fixação do velcro foi inspirado em sua capacidade de se prender à roupa humana, característica apresentada pelas rebarbas (tipo carrapicho) das plantas de bardana.

As plantas usam rebarbas para prender vagens de sementes a animais e pessoas que passam, cujo propósito é o de dispersar as sementes em áreas mais amplas. As rebarbas possuem pequenos ganchos que se entrelaçam com um material macio.

O velcro replica isso usando uma tira forrada com ganchos junto a uma tira de tecido. Quando pressionados juntos, os ganchos e os laços prendem-se uns aos outros.

Estrutura de gancho e laço vista por um microscópio. Foto: Cortesia do autor/Reprodução.

O velcro é usado em uma grande variedade de produtos em todo o mundo. De acordo com a Nasa, o velcro foi usado no espaço durante as missões Apollo de 1961 a 1972 para prender equipamentos na gravidade zero.

Artigo original (em inglês) publicado por Amin Al-Habaibeh na The Conversation.


Sobre o autor
Amin Al-Habaibeh é professor de Sistemas Inteligentes de Engenharia na Universidade de Nottingham Trent. Sua pesquisa e ensino se concentram em vários tópicos multidisciplinares na vasta área do design de produtos e energia.

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Nota: O autor não trabalha, não é consultor, nem possui ações ou recebe financiamento de qualquer empresa ou organização que se beneficie deste artigo, e não divulgou nenhuma afiliação relevante além da acadêmica.

A Nottingham Trent University fornece financiamento como membro do The Conversation UK.

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