A energia renovável está criando um monte de empregos verdes

Muitos já devem saber que a crise energética vem afetando bilhões de pessoas em todo o mundo, visto que os preços altos tornam o abastecimento mais caro para residências e empresas. No entanto, a crise atual também acelerou a corrida pela energia renovável, na medida em que países em todo o mundo lutam para desenvolver fontes de energia sustentáveis e mais seguras. Assim, o campo da energia renovável está criando um monte de empregos verdes em todo o mundo, por conta dessa dinâmica.

Globalmente, o número de postos para o setor nos últimos dois anos aumentou em 700 mil para um total de 12,7 milhões de pessoas empregadas, de acordo com a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA).

Boom de empregos verdes

O relatório da IRENA, Energia Renovável e Empregos: Revisão Anual 2022, elaborado com a colaboração da Organização Internacional do Trabalho (OIT), mostra que um número crescente de países está criando empregos no setor de energia renovável. O relatório sugere que essa explosão de postos pode elevar a oferta global de empregos no setor para mais de 38 milhões até 2030.

Até o momento, a energia solar fotovoltaica é responsável pela maior fatia de empregos da energia renovável, com 4,3 milhões de postos; depois vêm os biocombustíveis e a energia hidrelétrica, com 2,4 milhões cada, seguidos pela energia eólica, com 1,3 milhão. Outros setores como geotérmica, bombas de calor e energia marinha compõem o restante do crescimento de empregos.

Do total de empregos oriundos da energia renovável, quase dois terços estão na Ásia, de acordo com dados da IRENA. A China vem bem à frente como o país com a maior fatia, representando 42,2% do total global. Em segundo lugar vem o Brasil (10%), seguido da União Europeia (9,7%), EUA (7,8%) e Índia (6,8%).

O relatório diz que a maioria dos empregos na África permanece no setor de energia convencional, já que a região atualmente compreende apenas cerca de 1% da capacidade instalada de energia solar fotovoltaica e eólica do mundo.

Eletricidade

A eletricidade oriunda de fontes renováveis teve em 2021 uma capacidade instalada em torno de 257 gigawatts (GW) em todo o mundo – o que fez a capacidade cumulativa expandir em 9%, com a energia solar fotovoltaica e a energia eólica respondendo por 88% dessa expansão.

A maior parte da nova capacidade foi instalada na China, representando 50% das novas instalações de energia eólica e 40% das solares. No entanto, a IRENA diz que o resto do mundo também adicionou quantidades recordes de capacidade solar e eólica em 2021.

Solar Fotovoltaica

No campo da energia solar fotovoltaica, os países asiáticos fornecem 79% dos empregos globais – os quais cresceram de 300 mil para 4,3 milhões no período 2020–2021. O relatório da IRENA diz que isso reflete o domínio da região na fabricação e a “forte presença” nas instalações. Os empregos restantes foram nas Américas (7,7%), Europa (6,8%) e o resto do mundo representando 4,9% de todos os empregos.

O relatório observa que “a grande maioria da fabricação global de energia solar fotovoltaica ocorre na China, apoiada por incentivos substanciais do governo e extensa pesquisa e desenvolvimento”. No entanto, dois terços da produção fotovoltaica total da China foram enviados para o exterior em 2020. Por outro lado, a União Europeia importou 84% dos módulos solares instalados de 2017 a 2021, os EUA importaram 77% e a Índia 75%.

Eólica

Globalmente, o emprego neste setor cresceu de 1,25 milhão de postos em 2020 para 1,4 milhão em 2021. Embora a Ásia responda por 57% do total global, a China tem a maior parte (48%). Já a Europa (25%) e as Américas (16%) representaram a maior parte do restante.

A IRENA diz que a Europa é líder no desenvolvimento e construção de tecnologia eólica offshore, sendo que quatro países europeus representaram mais de três quartos das exportações globais em 2020, liderados pela Dinamarca e Alemanha.

Hidrelétrica

Cerca de 2,3 milhões de pessoas trabalharam no setor hidrelétrico em 2021, em todo o mundo, sendo que dois terços desses empregos foram na manufatura. A capacidade hidrelétrica global cresceu 25 GW em 2021, com a China sozinha adicionando 21 GW.

Juntas, a China e a Índia forneceram mais da metade dos empregos em hidrelétricas em todo o mundo. O relatório da IRENA observa que a Etiópia é agora responsável por quase 2% do emprego global no setor, refletindo a construção do maior projeto hidrelétrico da África, a Grande Barragem do Renascimento Etíope.

Biocombustíveis

A América Latina é responsável por 44% de todos os postos de trabalho desse setor em todo o mundo, sendo o Brasil o maior empregador de biocombustíveis líquidos. A Ásia fornece 36% dos empregos, com Indonésia, Tailândia, Malásia e Filipinas também tendo um grande número de trabalhadores nessa área.

A IRENA faz a ressalva de que a agricultura altamente mecanizada na América do Norte e na Europa sugere que essas regiões possam precisar de menos trabalhadores atuando nestes setores.

O etanol compreende a maior parte da produção global de biocombustíveis, seguido pelo biodiesel e óleo vegetal hidrotratado (HVO). Os EUA e o Brasil foram os principais produtores de etanol em 2021. Já a Indonésia foi o maior produtor de biodiesel.

Como tornar o futuro do trabalho mais inclusivo e sustentável?

A IRENA diz que a análise de seu relatório indica que a indústria da energia renovável tem um melhor equilíbrio de gênero do que no setor de energia convencional, especialmente no campo solar fotovoltaico. No entanto, ela diz que muito mais precisa ser feito para aumentar a participação das mulheres em todos os níveis.

“A parcela crescente de emprego feminino sugere que políticas e treinamentos dedicados podem aumentar significativamente a participação das mulheres em ocupações na área de energia renovável, inclusão e, finalmente, alcançar uma transição justa para todos”, disse o diretor-geral da OIT, Guy Ryder.

A série de artigos técnicos intitulados Jobs of Tomorrow, do Fórum Econômico Mundial, procura quantificar até 2030 a necessidade de empregos verdes em 10 países, bem como aqueles que apoiam mais a inclusão social. É um apelo à ação para que governos e empresas priorizem os investimentos nesses empregos, garantam que os trabalhadores recebam salários justos e desenvolvam as habilidades necessárias para que possam prosperar.

Artigo original (em inglês) publicado por Stefan Ellerbeck no Fórum Econômico Mundial–WEF.

Sobre o autor
Stefan Ellerbeck é escritor sênior no Fórum Econômico Mundial–WEF. Durante os mais de 25 anos de experiência como jornalista, trabalhou para algumas das principais organizações de notícias do mundo e, recentemente, fez a transição para o mundo do marketing digital e das comunicações.