Dietas veganas limpam o ar e podem salvar mais de 200 mil vidas

Imagem bem colorida de vários legumes e frutas sobre uma mesa de madeira para ilustrar post cujo título diz que dietas veganas limpam o ar e podem salvar mais de 200 mil vidas.
Estudo sugere que a adoção de dietas veganas pode reduzir em cerca de 20% as mortes prematuras decorrentes da poluição do ar. Créditos: Engin Akyurt/Pixabay.
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Adotar uma dieta mais saudável provavelmente foi destaque em nossas resoluções de ano novo. Mas muitas vezes torna-se desafiador para as pessoas viverem de acordo com suas intenções.

Todavia, há boas razões para persistir em fazer escolhas deliberadas sobre o que está em seu prato. Essas escolhas não afetam apenas a sua própria saúde, mas a saúde do planeta também.

Os sistemas alimentares representam um terço das emissões globais de gases de efeito estufa [GEE]. Se não forem controladas, elas provavelmente adicionariam aquecimento o suficiente para elevar a temperatura média da Terra além de 1,5°C na década de 2060.

Agora as pesquisas também estão incluindo a poluição atmosférica na lista de problemas causados pela agricultura. A criação de animais, em particular, é uma importante fonte de emissões de amoníaco. Essas emissões reagem com outros poluentes para formar material particulado fino, o que pode causar problemas de saúde como doenças cardiovasculares, câncer de pulmão e diabetes.

Dietas mais saudáveis, ar mais limpo

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, em 2019 houve 4 milhões de mortes prematuras ligadas à poluição do ar externo. A agricultura é responsável por cerca de um quinto dessas mortes.

Estudamos o que aconteceria com a qualidade do ar se as pessoas do mundo todo mudassem para dietas melhores e mais saudáveis para o meio ambiente. Isso inclui dietas com menos carne (flexitarianas), dietas sem carne (vegetarianas) e dietas sem produtos de origem animal (veganas).

Nossos resultados mostram que uma mudança para dietas à base de plantas pode reduzir significativamente a poluição do ar. Haveria uma redução particularmente pronunciada na concentração de material particulado fino em áreas com muitos animais, como a Bélgica, Holanda, norte da Itália, sul da China e centro-oeste dos EUA (em Iowa, há oito porcos para cada pessoa).

Há mais porcos em Iowa (EUA) do que pessoas. Créditos: Alan Roberts/Unsplash.

Uma melhor qualidade do ar conduz a uma saúde melhor. Descobrimos que mais de 100.000 mortes prematuras poderiam ser evitadas globalmente se dietas flexitarianas fossem adotadas. Os ganhos de saúde com o ar mais limpo se somariam aos benefícios obtidos com uma alimentação mais equilibrada.

Esses benefícios para a saúde aumentam à medida que as pessoas comem menos produtos de origem animal. Por exemplo, se todas as pessoas se tornassem veganas, o número de mortes prematuras decorrentes da poluição do ar poderia reduzir em mais de 200.000. Na Europa e na América do Norte, a adoção de dietas veganas pode reduzir em cerca de 20% as mortes prematuras decorrentes da poluição do ar.

O ar puro é frequentemente negligenciado, mas ele é um aspecto importante do ambiente de trabalho. As pesquisas demonstram que a poluição do ar reduz a produtividade dos trabalhadores em muitos empregos diferentes, de fazendas a fábricas. Por exemplo, estudos sugerem que a poluição do ar afeta a produtividade de catadores de mirtilo e empacotadores de pera.

Nossas estimativas sugerem que um ar mais limpo pode ter um impacto positivo na economia. Descobrimos que uma mudança para dietas veganas poderia aumentar o PIB global em mais de 1% – um ganho de US$ 1,3 trilhão.

Imagem de agricultores colhendo maçãs entre uma vegetação ilustra o post cujo título diz que dietas veganas limpam o ar e podem salvar mais de 200 mil vidas.
A poluição do ar reduz a produtividade dos trabalhadores. Créditos: Engin Akyurt/Pixabay.

Tornando a mudança possível

Melhorar a qualidade do ar é, sem dúvida, benéfica para a nossa saúde e para a economia. Argumentamos que as mudanças alimentares devem, portanto, entrar para o cardápio das políticas públicas.

Adotar mais dietas à base de plantas é uma estratégia econômica para combater as emissões. Mas também diminui a necessidade de investimentos caros em equipamentos para reduzir as emissões de sistemas pecuários, como lavadores que removem amônia do ar.

Comer menos carne também diminuiria a necessidade de outras medidas mais drásticas para conter a poluição. Por exemplo, os pesquisadores já sugeriram mover 10 bilhões de animais para longe do sul e leste da China [como medida] para reduzir a exposição à amônia de pessoas nestas regiões.

Mudar para dietas mais saudáveis e à base de plantas oferece uma ampla gama de benefícios além do ar limpo. Estes benefícios incluem um menor risco de doenças relacionadas com a dieta, reduzindo as emissões de [GEE] e diminuindo a utilização de terra, água e fertilizantes para a agricultura.

Alcançar progressos ambiciosos em todas estas áreas ao mesmo tempo será um desafio se dependermos apenas de soluções tecnológicas.

Durante o verão de 2023, a rede alemã de supermercados Penny realizou um experimento de uma semana para aumentar a conscientização sobre o custo real dos produtos alimentícios na saúde das pessoas e no meio ambiente. Os preços cobrados aos clientes levaram em conta o impacto dos produtos alimentícios no solo, no uso da água, na saúde e no clima.

Esse conceito poderia ser aplicado de forma mais ampla. Mas, para tornar esta política justa e aceitável, ela precisa ser associada a formas de utilizar as receitas fiscais para garantir que os consumidores não fiquem em situação pior, como a redução de impostos sobre frutas e legumes e a compensação de famílias vulneráveis. Dessa forma, os gastos totais com alimentação seriam mantidos sob controle e as famílias de baixa renda seriam protegidas.

Artigo original (em inglês) publicado por Toon Vandyck & Marco Springmann na The Conversation UK.

Sobre os autores


Toon Vandyck é Pesquisador em Economia na Universidade Católica de Leuven, na Bélgica.


Marco Springmann é Pesquisador Sênior em Meio Ambiente e Saúde na Universidade de Oxford, Reino Unido.

Declaração de Transparência

Toon Vandyck não trabalha, não faz consultoria, nem possui ações ou recebe financiamento de qualquer empresa ou organização que poderia se beneficiar com a publicação deste artigo e também não revelou nenhum vínculo relevante além do cargo acadêmico que ocupa.

Marco Springmann recebe financiamento do Wellcome Trust e do Horizon Europe.

A Universidade de Oxford fornece financiamento como membro do The Conversation UK.

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