Precisamos fazer uma descarbonização digital

Imagem de um data center para ilustrar o post que fala sobre o primeiro supercomputador capaz de simular redes de neurônios.
Sistemas computacionais convencionais consomem muita energia. Imagem: DC Studio/Freepik.

Mais da metade dos dados digitais gerados por empresas são coletados, processados ​​e armazenados para fins de uso único. Muitas vezes, estes dados nunca são reutilizados – e isso inclui várias imagens quase idênticas que são armazenadas no Google Fotos ou no iCloud, planilhas desatualizadas de uma empresa que nunca mais serão usadas ou dados de sensores da Internet das Coisas (IoT) que não têm propósito.

Esses “dados obscuros” estão ligados ao mundo real pela energia que demandam. Mesmo os dados armazenados que nunca mais são usados ​​ocupam espaço nos servidores – normalmente enormes bancos de computadores em atacadistas. Tais aparelhos e instalações que os abrigam consomem muita eletricidade.

Este é um custo expressivo de energia que está oculto na maioria das organizações. Manter uma memória de forma organizacional e eficaz é um desafio, mas qual seu custo para o meio ambiente?

No caminho para o net zero, muitas organizações estão tentando reduzir suas pegadas de carbono. As orientações geralmente se concentram na redução das fontes fósseis, por meio de mecanismos como a compensação de carbono feita por terceiros (plantação de árvores para a compensação das emissões de dióxido de carbono, por exemplo).

Uma pegada de carbono digital

Enquanto a maioria dos ativistas das mudanças climáticas está focada em limitar as emissões produzidas pela indústria automotiva, de aviação e de energia, o processamento de dados digitais já é comparável a esses setores e continua crescendo. Em 2020, a digitalização supostamente gerou 4% das emissões globais de gases de efeito estufa.

A produção de dados digitais está aumentando rapidamente – espera-se que este ano o mundo gere 97 zettabytes de dados (algo em torno de 97 trilhões de gigabytes). Em 2025, esta produção quase dobrará para 181 zettabytes. Portanto, é surpreendente que pouca atenção política esteja sendo dada à redução da pegada de carbono digital das organizações.

Enorme data center da Microsoft em Amsterdam, na Holanda. Foto: Google Maps

Quando falamos com as pessoas sobre nosso trabalho, descobrimos que elas geralmente assumem que os dados digitais – ou o processo de digitalização – são neutros em carbono. Mas esse não é necessariamente o caso – para melhor ou pior, há um controle de sua pegada de carbono.

Para ajudar a reduzir essa pegada, introduzimos a ideia de “descarbonização digital”. Com isso, não queremos sugerir o uso de telefones, computadores, sensores e outras tecnologias digitais para reduzir a pegada de carbono de uma organização. Em vez disso, estamos nos referindo à redução da pegada de carbono dos próprios dados digitais.

É fundamental reconhecer que a digitalização não é por si só uma questão ambiental, mas existem enormes impactos ambientais que dependem de como usamos os processos digitais nas atividades diárias em nosso local de trabalho.

Para ilustrar a grandeza da situação dos dados obscuros, os data centers (responsáveis ​​por 2,5% de todo o dióxido de carbono induzido por ação humana) têm uma pegada de carbono maior do que a da indústria da aviação (2,1%). Para contextualizar isso, criamos uma ferramenta que pode ajudar a calcular o custo de carbono dos dados de uma organização.

Nossos cálculos indicam que um negócio típico voltado para dados – como seguros, varejo ou bancos – com 100 funcionários, pode gerar 2.983 gigabytes de dados obscuros por dia. Se esses dados forem mantidos por um ano, sua pegada de carbono será equivalente à de voar seis vezes entre Londres e Nova York. Atualmente, as empresas produzem por dia 1,3 bilhão de gigabytes de dados obscuros – o que representaria pouco mais de 3 milhões de voos entre Londres e Nova York.

O que seus dados obscuros acrescentam? Foto: PKozmin/Pixabay

O rápido crescimento de dados obscuros levanta questões significativas sobre a eficiência das atuais práticas digitais. Em um estudo publicado recentemente no Journal of Business Strategy, identificamos maneiras de ajudar as organizações a reutilizar dados digitais e destacar os caminhos a serem seguidos por elas na coleta, processamento e armazenamento de dados digitais novos. Esperamos que isso possa reduzir a produção de dados obscuros e contribuir para o movimento de descarbonização digital, com o qual todos precisaremos nos envolver para que o net zero seja viável.

Nesse sentido, você pode até começar decidindo quais fotos e vídeos não precisa mais. Lembre que cada arquivo armazenado no Apple iCloud ou no Google Fotos aumenta sua pegada de carbono digital.

Artigo original (em inglês) publicado por Tom Jackson e Ian Hodgkinson na The Conversation.

Sobre os autores

Declaração:
Os autores não trabalham, não fazem consultoria, nem possuem ações ou recebem financiamento de qualquer empresa ou organização que se beneficie deste artigo. Eles não divulgaram qualquer afiliação relevante além da acadêmica.

A Universidade Loughborough fornece financiamento como membro do The Conversation UK.

Agradecimento: Imagem do data center, no início deste post, cortesia DCStudio/Freepik.

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