França aprova lei que exige painéis solares em estacionamentos

Foto de um prédio com painéis solares no topo para ilustrar que a França aprova lei que exige painéis solares em estacionamentos. Foto: Solarimo/Pixabay
Foto: Solarimo/Pixabay

A França aprova lei que exige painéis solares em estacionamentos de todo o país que tenham mais de 80 vagas. Essa medida faz parte de um programa mais amplo que prevê painéis solares ocupando algumas terras agrícolas, lotes abandonados e terrenos baldios ao longo de estradas e ferrovias.

Com a aprovação dessa lei, espera-se que 11 gigawatts de energia sejam adicionados à rede elétrica francesa – o equivalente a dez reatores nucleares.

Esses números batem? E os outros países deveriam fazer o mesmo?

Vários países, principalmente a Alemanha, já exigem de construtores que novos edifícios incorporem energias renováveis em seus projetos, como painéis solares montados no telhado, caldeiras alimentadas por energia oriunda da biomassa, bombas de calor e turbinas eólicas. A política francesa se aplica a estacionamentos novos e aos já existentes.

A área média que um estacionamento ocupa é de aproximadamente 4,8×2,4 metros, ou 11,52m². Assumindo uma saída de 120 watts por m², isso resulta em 1,38 kilowatts de potência por vaga. Há mais espaço para passarelas e faixas de tráfego dentro do estacionamento, mas os painéis solares precisariam ser mantidos distantes uns dos outros o suficiente para evitar a sombra deles próprios.

O sombreamento pode limitar a quantidade de energia solar que os painéis geram.
Foto: Klaus-Uwe Gerhardt/Pixabay

Para uma produção de 11 gigawatts, seria preciso cobrir com painéis solares cerca de 7,7 milhões de vagas de estacionamento. Haveria tantos estacionamentos na França que se qualificariam? O Reino Unido tem entre 3 e 4 milhões de vagas e 40 milhões de veículos. A França tem uma frota de tamanho semelhante de 38 milhões. Portanto, 7,7 milhões de espaços parecem improváveis.

No entanto, a legislação abrange muitos terrenos urbanos e não apenas os estacionamentos. Em teoria, 92 km² de terreno urbano francês (definido como qualquer área construída com mais de 5.000 pessoas) poderiam gerar 11 gigawatts de energia solar.

Esse total pode parecer muito, mas representa apenas 0,106% da área urbana total da França de 86.500 km². Considerando a diferença nos fatores de capacidade (quanta energia cada fonte gera por ano em comparação com sua produção máxima teórica) entre a energia nuclear francesa (70%) e a energia solar francesa (15%), 430 km² de energia solar forneceriam a mesma quantidade de energia por ano (em gigawatts-hora) que as dez usinas nucleares instaladas.

Os painéis solares precisam cobrir apenas 0,5% do solo urbano francês, equivalente a 0,07% da área total da França. Portanto, isso é possível, embora os estacionamentos constituam uma pequena parte do programa geral.

Um estacionamento com painéis solares perto de você

O Reino Unido e os países mais ao norte recebem pouca luz solar por m² e o sol fica mais baixo em seu horizonte, o que aumenta o problema da sombra nos painéis, embora os dias mais longos no verão compensem a perda energética até certo ponto.

Além disso, embora muitos estacionamentos no sul da Europa já tenham painéis solares sobre eles (o que permite que sejam montados em estruturas existentes), nos países mais frios essa prática é rara. Assim sendo, em alguns países, provavelmente seria muito mais fácil montar painéis nos telhados de edifícios do que no topo de estacionamentos. E onde os painéis solares não forem práticos, outras opções, como turbinas eólicas, podem ser alternativas viáveis.

Estacionamento coberto com painéis solares. Foto: Kindel Media/Pexels

Da mesma forma, alguns estacionamentos, especialmente aqueles nos centros das cidades, recebem sombras durante a maior parte do dia, oriundas de prédios altos que estão próximos. Por outro lado, não há razão para não colocar painéis sobre eles.

A França provavelmente seguirá essa política energética para diminuir sua dependência da energia nuclear, responsável por fornecer 70% da eletricidade do país. Esse arranjo funciona quando a demanda é estável, mas torna-se um problema quando, por exemplo, uma seca obriga várias usinas a reduzir ou mesmo parar a produção de energia.

Além disso, a França também está adicionando à sua rede vários milhões de carros elétricos e bombas de calor, e vai precisar recorrer a uma variedade de fontes de energia e opções diferentes de armazenamento.

O Reino Unido também depende do gás para gerar eletricidade e aquecimento. Logo, faz muito sentido poder diversificar o suprimento de energia, boa parte da qual está diretamente conectada aos próprios carros ou residências que a consomem. Mas uma estratégia para liberar o potencial de energia verde de espaços vagos em povoados e cidades deve começar – e não terminar – por estacionamentos.

Artigo original (em inglês) publicado por Dylan Ryan na The Conversation.


Sobre o autor
Dylan Ryan é professor de Engenharia Mecânica e de Energia da Universidade de Edimburgo Napier. Anteriormente, sua pesquisa tinha foco na construção de veículos integrados de energias renováveis e célula de combustível de hidrogênio, incluindo vários projetos europeus financiados pelo FP7.

.

Nota: O autor não trabalha, não é consultor, nem possui ações ou recebe financiamento de qualquer empresa ou organização que se beneficie deste artigo, e não divulgou nenhuma afiliação relevante além da acadêmica.

A Edinburgh Napier University fornece financiamento como membro do The Conversation UK.

Similar Posts