Formigas invasoras são ameaças silenciosas aos ecossistemas

Imagem de uma formiga amarela mordendo uma flor para ilustrar post cujo título diz que as formigas invasoras são ameaças silenciosas aos ecossistemas.
A formiga Anoplolepis gracilipes, conhecida como formiga-louca amarela, é uma espécie invasora notória. Foto: Nghang Vu/Pixabay.

Os invertebrados são frequentemente descritos por especialistas como sendo as “pequenas coisas que comandam o mundo”.   As formigas são certamente uma das principais candidatas a esse papel, pois elas ajudam os ecossistemas a funcionar normalmente. O peso total aproximado de todas as formigas na Terra equivale ao de 1,4 bilhão de pessoas – ou ao peso de 33 prédios [do tamanho do edifício americano] Empire State.

Infelizmente, algumas formigas se tornaram espécies invasoras – organismos que são transportados para um novo ecossistema e causam danos ao mesmo. O transporte das formigas geralmente acontece por pessoas, de forma acidental, e podem ter consequências terríveis, como mostra uma nova pesquisa de minha equipe.

Acredita-se que as espécies invasoras sejam a segunda maior ameaça à biodiversidade, atrás apenas da destruição do habitat. Tais formigas são uma das principais causas de extinção de animais, potencialmente promovendo a extinção de espécies e falência de ecossistemas.

A União Internacional para a Conservação da Natureza inclui cinco espécies diferentes de formigas em sua lista das 100 piores espécies exóticas invasoras do mundo. Mas embora as formigas invasoras tenham drasticamente transformado algumas das áreas que conseguiram invadir, outras áreas parecem ser muito menos afetadas, ou nada afetadas.

Na verdade, quão ruins são as formigas invasoras?

Nosso estudo se baseia em pesquisas realizadas em todo o mundo para fornecer uma medida de quão ruins ou boas as formigas invasoras são para a perda da biodiversidade. Os resultados nos mostram que as formigas invasoras são tão ruins quanto imaginávamos.

Extraímos dados de 46 artigos científicos diferentes que investigaram como as comunidades animais reagiam às formigas invasoras e, então, combinamos os resultados. Selecionamos apenas pesquisas realizadas em ambientes naturais relativamente “imperturbáveis”, livres de intensa atividade humana.

Essas são áreas para as quais as formigas invasoras se dispersaram a partir de ambientes urbanos ou habitats mais degradados. Isso nos permite afirmar com mais confiança que quaisquer efeitos negativos ou positivos nas comunidades animais são causados por formigas invasoras, em vez de outras espécies invasoras ou alguma forma de perturbação humana, como a agricultura ou o desmatamento.

Nossos resultados mostram que as comunidades animais respondem esmagadoramente de forma negativa às formigas invasoras. Descobrimos que havia, em média, 50% menos animais e espécies individuais em áreas invadidas por formigas, o que representa uma queda dramática na biodiversidade. É importante lembrar que esses resultados são uma média e, portanto, as formigas invasoras podem representar uma ruína para algumas comunidades animais além desses números.

Pheidole megacephala ou formiga-cabeçuda é outra espécie de formiga invasora. Foto: Guillaume de Germain/Unsplash.

Descobrimos que certos tipos de animais, como aves, répteis e besouros, reagiram mais fortemente do que outros. Estes animais, juntamente com as borboletas e as mariposas foram grupos bem afetados.  No entanto, as formigas nativas fazem parte do grupo mais afetado.

Isso faz sentido porque muitas formigas nativas não só serão atacadas diretamente por formigas invasoras, mas também precisarão competir com estas por comida e locais de ninho. Isso também é uma má notícia por causa da importância geral das formigas nativas para o ecossistema mais amplo.

Também descobrimos que aumentou o número de indivíduos em um grupo de insetos – tais como cochonilhas e pulgões. Este grupo forma um tipo de “mutualismo” com as formigas, [relacionamento] que resulta em um benefício específico para as espécies envolvidas.

As cochonilhas e os pulgões sugam seiva e excretam uma substância açucarada – conhecida como “melada” – que as formigas adoram. Portanto, as formigas defenderão esses insetos de seus predadores e parasitas em troca desse alimento, permitindo que suas populações aumentem mutuamente. Em alguns casos, esses mutualismos podem facilitar uma invasão – e com efeitos desastrosos.

Como um inseto tão pequeno pode causar um problema tão grande?

Embora as formigas sejam pequenas em relação à forma como as pessoas percebem o mundo, elas são numerosas e tendem a interagir com uma ampla gama de outros organismos. Isso significa que elas podem ser capazes de influenciar o ecossistema a partir de vários ângulos de ataque. As formigas invasoras provavelmente caçam ativamente outras espécies, mas a competição por comida ou espaço também é importante.

No final das contas, precisamos de mais pesquisas que possam desvendar como as formigas estão interagindo com outras espécies quando invadem seus habitats. O que elas comem? Com quem elas competem por comida? Quais habitats elas preferem e por quê? Essas perguntas precisam urgentemente de respostas para que possamos entender e dar prioridade sobre como minimizar os efeitos negativos das formigas invasoras.

No geral, [o resultado de] nossa pesquisa é preocupante. A redução da diversidade animal pode ter consequências graves para o funcionamento dos ecossistemas e para o futuro das espécies raras em longo prazo. Embora existam considerações cruciais para mitigar ou reverter esses efeitos, as implicações para a conservação não são simples.

Os regimes para a erradicação de formigas [invasoras] são logisticamente complexos e financeiramente caros, por exemplo – e mais da metade falha. A tecnologia de detecção precoce, bem como medidas de controle, como iscas tóxicas, podem ajudar os conservacionistas a prevenir ou reverter os efeitos que as formigas invasoras causam aos nossos ecossistemas.

Artigo original (em inglês) publicado por Maximillian Tercel na The Conversation UK.


Sobre o autor
Maximillian Tercel é doutorando em Entomologia pela Universidade de Cardiff, no Reino Unido. Como entomologista, ele usa técnicas de metabarcoding de DNA para revelar como as formigas invasoras se encaixam em comunidades ecológicas.

Nota: Maximillian Tercel recebe financiamento do Natural Environment Research Council e do Durrell Wildlife Conservation Trust.

A Universidade Cardiff fornece financiamento como membro do The Conversation UK.

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