Você sabia que seu smartphone é um dispositivo de vigilância?

Imagem de uma sala com dois homens olhando para várias telas de monitor para ilustrar o post que indaga sobre se você sabia que seu smartphone é um dispositivo de vigilância.
Governos e agências policiais em todo o mundo acessam smartphones e os tornam dispositivos de vigilância. Foto: DC Studio/Freepik.

Ouvir a notícia

Muitas notícias estão circulando este mês sobre a nova política colocada em prática pelo governo francês para permitir que a polícia controle remotamente os celulares de pessoas suspeitas, incluindo acesso a câmeras, microfones e dados de GPS. Portanto, você sabia que seu smartphone é um dispositivo de vigilância? Engana-se quem acha que isso é incomum.

Prometendo que seria usado apenas em “dezenas de casos por ano”, o ministro da Justiça francês, Éric Dupond-Moretti, saudou a nova legislação, a qual permite que tal espionagem perdure por até seis meses quando aprovada por um juiz e nos casos em que as sentenças possíveis são de pelo menos cinco anos. “Estamos muito longe do totalitarismo [retratado no livro] 1984“, acrescentou. “As vidas das pessoas serão salvas.”

Um policial ou agente do governo poder hackear seu telefone e observar casualmente uma transmissão ao vivo de sua vida, claramente, isso parece ser uma invasão de privacidade das mais obscenas. E, visivelmente, isso abre a porta para abusos de liberdades civis perpetrados por pessoas que ocupam posições de poder, assim como abusos mais específicos desse poder por atores de má-fé. Neste sentido, houve uma disparada na maioria dos lugares.

Em 2006, antes mesmo do lançamento do primeiro iPhone, a Polícia Federal dos EUA (FBI) estava ativando de forma remota e perfeitamente legal os microfones de celulares – mesmo com os aparelhos desligados – para espionar pessoas suspeitas. Naquela época, ainda era possível retirar as baterias de muitos celulares. Agora, nem tanto.

Nem mesmo desligar o GPS de seu telefone vai impedir que sua localização seja rastreada, visto que ela pode ser triangulada usando as torres de celular para as quais seu aparelho envia sinais centenas de vezes por dia.

Um relatório da Comparitech de 2022 descobriu que nos 50 países estudados [o Brasil foi um deles], todas as forças policiais tinham algum nível de acesso a smartphones e dados neles contidos.

Níveis de acesso variam e muitos países possuem requisitos para mandados judiciais. China, Arábia Saudita, Cingapura e Emirados Árabes Unidos permitem alguns dos acessos mais irrestritos a smartphones. Na China, por exemplo, você nem precisa ser suspeito de nada [para isso acontecer].

A Alemanha, surpreendentemente, permite que agentes de inteligência acessem smartphones de forma remota e instalem um spyware [software que possibilita um usuário obter e transmitir, de forma secreta, informações sigilosas sobre as atividades do aparelho de outra pessoa] mesmo que ela não seja suspeita de um crime.

Os Estados Unidos geralmente exigem mandados judiciais, embora haja muitas exceções. A Austrália vai um passo além para permitir que a polícia modifique dados no telefone de um suspeito.

Áustria, Bélgica, Finlândia e Irlanda estão entre os países com melhor classificação e respeito à privacidade do usuário de smartphones, com “leis claras e precisas que determinam que a polícia só acesse telefones celulares se a pessoa em questão for suspeita de um crime e se houver um mandado judicial”.

Caso esse tipo de acesso seja inaceitável para você, existem no mercado opções de smartphones com interruptores físicos que impedem o acionamento de suas câmeras e microfones – procedimento que não pode ser anulado remotamente.

De qualquer forma, para ter uma maior tranquilidade, encontre um telefone com bateria removível ou esmague cada peça de tecnologia que você possui e vá viver em uma ilha deserta. A gente se encontra por lá!

Fonte: Comparitech

Artigo original (em inglês) publicado por Loz Blain, na New Atlas.

Cortesia da imagem usada no texto: Freepik.

Sobre o autor
Loz Blain passou oito anos perseguindo um diploma de artes na Universidade de Melbourne, Austrália. Sem foco e com deficiência de atenção, ele buscou mais de 30 áreas diferentes de estudo em humanidades e ciências, em uma série de caprichos, antes de se decidir por um curso de psicologia. Desde 2007, Loz é um dos colaboradores mais versáteis da New Atlas e desde então provou ser fotógrafo, cinegrafista, apresentador, produtor e engenheiro de podcast, além de redator sênior.

Similar Posts