Estudo liga flavonoides à melhora da memória e saúde do coração

Foto de uma mulher mostrando parcialmente seu rosto olhando para uma xícara de chá que ela segura com as duas mãos para ilustrar que um estudo liga flavonoides à melhora da memória e saúde do coração.
Duas xícaras e meia de chá verde contêm a quantidade diária recomendada de flavonoides. Foto: John Diez/Pexels.

Há uma abundância de bons motivos para garantir que você coma frutas e vegetais em quantidades suficientes todos os dias. Frutas e vegetais não apenas contêm muitas das vitaminas e minerais importantes que nosso corpo precisa para funcionar da melhor maneira possível, mas também mantêm nosso intestino saudável e podem até ajudar a manter um peso saudável.

No entanto, alguns vegetais podem ser mais benéficos para sua saúde do que outros, graças a um grupo de compostos chamados flavonoides.

Por exemplo, um estudo recente que ajudei a realizar mostrou que as pessoas que adotam uma dieta alimentar rica em flavonoides podem ter uma memória melhor quando comparadas com as que ingerem menos. Um estudo anterior também descobriu que pessoas com baixa ingestão de flavonoides apresentavam maior risco de doença cardíaca. No geral, há evidências convincentes de que consumir flavonoides em quantidades suficientes é benéfico para a saúde.

Embora a pesquisa mostre que os flavonoides beneficiam nossa saúde, é importante que os consumidores saibam que nem todos os alimentos ricos em flavonoides contêm a mesma quantidade desses compostos – o que significa que alguns podem ser mais benéficos para a saúde do que outros.

Compostos vegetais

Os flavonoides são um grupo de compostos encontrados em muitas frutas – incluindo maçãs, frutas vermelhas, ameixas e até mesmo em bebidas, como o chá.

Existem dois grupos principais de flavonoides, com muitos subgrupos diferentes. Cada planta também conterá combinações diferentes de flavonoides. Cada um desses compostos tem estruturas diferentes e exercem efeitos diferentes no corpo. Isso significa que nem todos os flavonoides são criados iguais.

Por exemplo, uma porção de mirtilo e uma xícara de chá podem conter a mesma quantidade total de flavonoides – mas apresentam tipos completamente diferentes desses compostos, que podem exercer efeitos completamente diferentes à saúde.

Compostos extraídos do cacau possuem os dois principais tipos de flavonoides. Foto: Rodrigo Flores/Unsplash.

Portanto, para investigar os efeitos dos flavonoides na saúde, é importante usar uma fonte que inclua uma ampla variedade de tipos. É por isso que os compostos extraídos do cacau são um modelo ideal, pois contêm os dois principais tipos de flavonoides. Isso também permite que os pesquisadores calculem quais outros alimentos provavelmente apresentarão benefícios com base na semelhança de seus compostos em relação aos apresentados pelos flavonoides do cacau.

Como alimentos tipo cacau, chá e frutas vermelhas contêm uma combinação de muitos tipos de flavonoides, atualmente não está claro quais compostos individuais geram benefícios à saúde. Mas algumas pesquisas associaram especificamente o flavonoide epicatequina a uma melhor função vascular. Tanto o cacau como o chá contêm epicatequina.

Muitos tipos diferentes

Uma outra coisa a se descobrir é que mesmo que um alimento contenha flavonoides, ele pode conter quantidades menores em comparação com outros.

Para entender melhor como a ingestão de flavonoide afeta a saúde, desenvolvemos há alguns anos um teste que usa a urina para medir a ingestão de flavonoide. O teste é baseado na forma como o corpo humano processa os flavonoides e nos diz se alguém ingeriu grandes quantidades, pequenas quantidades ou nenhum flavonoide.

Por meio deste teste, fomos capazes de mostrar que as pessoas com alta ingestão de flavonoide tinham pressão arterial mais baixa e melhor memória do que aquelas com menor ingestão.

Quando desenvolvemos o teste de urina, também investigamos como ele é afetado por tipos diferentes de flavonoides e alimentos. Isso nos permitiu estimar a quantidade de alimentos diferentes e ricos em flavonoides que uma pessoa precisa consumir para atingir aproximadamente 500 mg diária do composto – semelhante à quantidade usada em estudos e que demonstraram ter benefícios clínicos.

Alimentos que contêm flavonoides e número de porções necessárias para obter os 500 mg diários do composto. Tabela adaptada da original feita pelo autor.

De acordo com nossa pesquisa, apenas duas xícaras e meia de chá verde são necessárias diariamente para obter os 500 mg recomendados de flavonoides. Pouco menos de uma xícara de painço (grão de sorgo) também pode fornecer a quantidade diária recomendada.

Mas se você tentar obter seus flavonoides de um tipo de fruta e vegetal, nossa pesquisa mostra que você precisaria consumir grandes quantidades de cada um para atingir a quantidade recomendada. Por exemplo, você precisaria consumir quase 15 xícaras apenas de framboesas para conseguir os 500 mg de flavonoides.

Dessa forma, a melhor maneira de obter as quantidades diárias de flavonoides é pela ingestão combinada de diferentes frutas e vegetais. Por exemplo, duas maçãs, uma porção de noz pecan e uma porção grande de morango, ou uma salada feita com painço e favas, podem resultar na ingestão da meta diária de 500 mg.

Também é importante observar que, embora os flavonoides usados em muitos estudos tenham sido extraídos do cacau, infelizmente o chocolate (mesmo o chocolate amargo) é uma fonte muito pobre de flavonoides – apesar do que algumas manchetes possam afirmar. Isso ocorre porque esses flavonoides são perdidos durante o processamento.

Embora ainda não saibamos muito sobre os flavonoides (por exemplo, por que eles exercem um efeito em tantos aspectos da nossa saúde), fica claro pela pesquisa que conduzimos que eles provavelmente são benéficos tanto para a memória quanto para a saúde do coração.

Artigo original (em inglês) publicado por Gunter Kuhnle na The Conversation.

Sobre o autor
Gunter Kuhnle é cientista de alimentos e tem investigado por mais de duas décadas o metabolismo e o efeito que os compostos fenólicos exercem na saúde. Ele possui doutorado em bioquímica pela Universidade de Leipzig (Alemanha) e desde 2019 é professor do Departamento de Ciências Alimentares e Nutricionais da Universidade de Reading (Reino Unido).

.Nota: Gunter Kuhnle recebeu financiamento para pesquisa da Mars, Inc., uma empresa envolvida em pesquisa de flavonoide e atividades comerciais relacionadas a este composto.

A Universidade de Reading fornece financiamento como membro do The Conversation UK.

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